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Arlindo Fião já fez a Radio-cirurgia, que correu bem!

Escrito por em 10/12/2017

Ovar viveu de forma intensa o drama de Arlindo Fião. Um dos nossos passou por uma fase da vida, daquelas que todos dispensamos e que, infelizmente, nos poderá bater à porta a qualquer momento…

A situação remonta há cerca de dois anos atrás. O nosso conterrâneo Arlindo Fião começou a ter sintomas estranhos. Desiquilíbrio, perda de sensibilidade nos membros, desorientação… Iniciou um percurso penoso, que o impediu de trabalhar durante muito tempo. Homem de família, pessoa humilde mas acarinhada pela comunidade foi andando de diagnóstico em diagnóstico. A suspeita chegou a recair num problema de coluna, tendo andado durante muito tempo com um colar cervical. Mas as melhoras tardavam…

Conhecido no meio do atletismo, de norte a sul, Arlindo Fião nunca foi atleta, mas a modalidade foi, é e será a sua paixão. Muitas vezes com prejuízo próprio e da sua família, Arlindo muito deu «às corridas». Na organização de provas, mas também no acompanhamento de atletas. Sem olhar a clubes, como gosta de dizer, Arlindo Fião encontrou no atletismo aquela segunda família que sempre lhe deu de volta aquilo que tão bem soube semear.

Sempre disponível para colaborar, atento semana após semana aos feitos dos atletas; perspicaz para os elogiar nos momentos altos e incentivar nas fases menos boas, o Arlindo colocou, ao longo dos anos, a palavra atletismo como o seu nome do meio!

Amigo próximo de Nelson Pais, atualmente Vice-Presidente da Associação de Atletismo de Aveiro, ainda no verão passado havia, apesar das suas limitações, colaborado na organização de uma corrida solidária para apoiar as famílias mais necessitadas da Freguesia de S. João de Ovar. Uma chamada a que disse presente, vinda de outro amigo, Alberto Valente; do Clube de Atletismo de Ovar. Sem hesitar.

O seu círculo de amigos foi tomando conhecimento do seu problema de saúde e registando que tardava a aparecer um diagnóstico claro, que possibilitasse o início de um tratamento eficaz. E foi mesmo um atleta que lhe granjeou a entrada num hospital privado, onde foi submetido a uma bateria de exames. Daí resultaria um diagnóstico que, apesar de bem-vindo não seria animador…

Na zona interna, próxima do seu ouvido esquerdo, o Arlindo tinha um pequeno tumor… Uma cirurgia convencional poderia removê-lo, não fosse a localização. Os riscos eram muito grandes. Surdez e paralisia facial faziam parte da lista… Foram-lhe apontados dois caminhos possíveis. Um seria longo, penoso e sem garantia de eficácia. Passava por entrar nas listas de espera do IPO e ser mais tarde sujeito a tratamentos convencionais que, no seu caso, não seriam os mais indicados. O risco de crescimento do tumor e os eventuais efeitos secundários dessa opção levaram os clínicos que fizeram o diagnóstico a recomendar que optasse pela Radio-cirurgia…

Essa opção, disponível num hospital privado em Portugal, seria então a mais aconselhada. Um tratamento «simples», rápido e eficaz; que deveria ser feito o mais brevemente possível, já que só pode ser praticado em tumores de tamanho inferior a 3,5cm. Uma tecnologia que possibilita destruir as células do tumor, levando a que o mesmo acabe por desaparecer sem efeitos colaterais. Curiosamente, havia sido difundida, não há muito tempo, na televisão, uma reportagem sobre essa nova possibilidade, disponível em Portugal…

Uma boa notícia que não chegou só… esse tratamento, não sendo comparticipado pelo serviço Nacional de Saúde teria que ser pago na totalidade pelo Arlindo Fião. Um valor que rondaria os 15.000,00€. Valendo a vida muito mais do que isso (diríamos que não tem preço), o Arlindo e a sua família ficaram arredados de poder avançar. Não havendo essa disponibilidade financeira, preparavam tudo para, de alguma forma, aceitar a má sorte e resignar-se a passar pelo processo alternativo. Menos indicado, mas mesmo assim uma esperança…

E seria assim se o seu amigo Nelson Pais não se sentisse inconformado com tal injustiça! Num gesto de grande humanidade, entendeu que deveria fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar o Arlindo Fião. Interiorizou a ideia de que «o tumor se meteu com a pessoa errada» e começou a falar do problema com pessoas próximas, que pudessem ajudá-lo a ajudar o Arlindo…

Muito rapidamente percebeu que, na «família do atletismo», todos estavam solidários e disponíveis para colaborar. A primeira barreira que teve que vencer foi, contudo, a irredutibilidade do próprio Arlindo Fião que, no início se mostrou indisponível para receber a ajuda de terceiros. Felizmente isso já não viria a ser uma decisão sua… muito rapidamente a chama solidária de gente de todo o País o convenceu disso mesmo… o melhor a fazer era aceitar a ajuda que tantos lhe queriam dar sem nada em troca. Percebeu que seria merecedor disso mesmo, tal a quantidade de mensagens de apoio que começaram a chegar, de forma espontânea. E a esperança renasceu!

Foi criado um grupo público no Facebook, ao qual Nelson Pais deu o nome de «Atletismo Solidário». A campanha foi toda centrada nessa ferramenta que começou, de forma exponencial, a receber novos membros, sugestões, mensagens e apoios. Foi criada uma conta solidária, com a ajuda de outro amigo, o Alberto Valente. Viviam-se então os primeiros dias do mês de Novembro. Foi fixada uma data para o final da campanha solidária, com a realização de uma caminhada, a 1 de Dezembro. E, em momento algum, foi pensado que o objetivo poderia não ser conseguido…

O movimento solidário cresceu, saiu das mãos das pessoas que o lideravam e passou a ser de todos. E todos fizeram a sua parte, cada um à sua maneira. Quem podia; fez donativos, que foram fazendo crescer a conta solidária. Mas muitas ajudas apareceram de forma indireta. Por vezes uma boa ideia valia por si só. Como aquela que levou à substituição de rifas, que já estavam a ser preparadas; pelos leilões de camisolas de atletas e de clubes desportivos.

Muito rapidamente, o «Atletismo Solidário» cresceu para fora dos meandros da modalidade. Outros desportos se juntaram à causa, de forma natural e adivinhando as movimentações que a sociedade civil foi chamando a si. Começaram «a chover» apoios em catadupa. Vinham de todo o País e mesmo do estrangeiro. Surgiam sabe-se lá como… Não poucas vezes se diz que as nossas gentes são capazes do melhor e do pior. No apoio ao Arlindo Fião só o melhor veio ao de cima, e ainda bem! A palavra, as mensagens, os apelos e a confiança no movimento deram a volta ao mundo. A cada dia que passava se tornava mais evidente que era possível!

O tempo galopou e o dia 1 de Dezembro chegou finalmente. Um feriado que acordou com sol, criando boas condições para a realização da caminhada. A Praça da República encheu-se de pessoas. De Ovar e de fora. Muitos não puderam estar fisicamente presentes, mas não deixaram de acompanhar o Arlindo Fião e os responsáveis pela iniciativa neste percurso. Ainda ali, num último fôlego se desdobravam iniciativas que reuniam os últimos apoios. A caminhada foi de participação livre. Quem não tivesse mais para oferecer do que a solidariedade era bem-vindo na mesma… Foi uma manhã de muitos sorrisos e de algumas lágrimas, sobretudo para a família do Arlindo Fião e para os seus amigos mais próximos. E a tão esperada notícia chegava com um rasgo de alegria nos rostos dos presentes: o objetivo havia sido alcançado e até superado. 16.381,00€ era o montante disponível naquele momento. Valor que ainda iria aumentar, pois havia apoios a chegar nos próximos dias… a «magia» da solidariedade aconteceu!

Jaime Valente foi o repórter de serviço da Rádio AVfm. Ouça as entrevistas no local:

Ricardo Ribas, atleta:

 

Silvana Dias, atleta:

 

Nelson Pais, mentor do movimento:

 

Arlindo Fião:

 

Entretanto, o Arlindo Fião já foi submetido à Radio-cirurgia na passada Quinta-feira, dia 7 de Dezembro. Que felizmente correu bem. Terá agora que ter alguns cuidados e recuperar de um susto que acabou por lhe dar uma lição de vida. Positiva, felizmente. É caso para dizer que o Arlindo Fião recebeu aquilo que semeou ao longo da vida. O valor que sobrou vai-lhe ainda permitir realizar mais alguns exames complementares e fazer face a uma ou outra despesa adicional que possa surgir. É caso para dizer que o Arlindo Fião e a sua família já receberam a sua prenda de Natal. E os votos da Rádio AVfm são para que possam fazer uso dela durante muitos e longos anos!

Veja a fotogaleria do dia 1 de Dezembro:

 

Relembramos ainda a entrevista que a Rádio AVfm fez ao Arlindo Fião e ao Nelson Pais, no início de todo o movimento. A mesma foi visualizada por mais de 5.000 pessoas em poucos dias…

 


Fotos: António Silva
Texto: Jaime Valente
Áudio: Jaime Valente

Opnião dos Leitores
  1. António Marques Baptista   Em   10/12/2017 em 13:29

    Há aqui algo que não entendo, pois o SNS paga a radiocirurgia, desde que esteja indicada!

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