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Mi-Fá-Dó-Sol | 19 Dez 2024

Carlos Reis e Dino Marques 19/12/2024

 

Emissão: 19 de Dezembro 2024

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

O fado é hoje em dia um símbolo representativo de Portugal no mundo, sendo considerado a forma de expressão artística que melhor definiria a identidade e a cultura portuguesas. Desde o seu surgimento na cidade de Lisboa na década de 1840, esse género musical percorreu um longo percurso de evolução e disseminação, tendo superado as fronteiras geográficas, políticas e socioculturais. De manifestação de “margem” típica para os transgressores da lei e do moral, o fado pouco a pouco ganhou o espaço nacional, até atingir uma dimensão mundial, com presença nas salas de espetáculo mais prestigiadas do mundo.
Vamos analisar o percurso e desenvolvimento da prática fadista e enquadrar o fado em termos históricos, demonstrando o ambiente no qual inicialmente o fado surgiu, de que modo se aburguesou e entrou nos salões aristocráticos, como ocorreu o processo da sua institucionalização e profissionalização no século XX e de que forma acontece nos dias de hoje.
O fado é uma canção popular portuguesa, uma das marcas mais importantes da produção musical da cidade de Lisboa e um dos ícones culturais de Portugal, que consiste nas convenções de interpretação vocal e instrumental e nos modelos performativos consagrados.
Uma sessão de fado implica um cantor solista, homem ou mulher, chamado fadista, um ou vários músicos e o público. A figura dominante é o fadista com uma ampla extensão vocal, acompanhado geralmente pela viola e pela guitarra portuguesa. Dos espectadores espera-se uma imobilidade e um silêncio enquanto se canta ou toca. É o silêncio que cria o ambiente fadista e é ele a principal forma de comunicação entre a audiência e os músicos. Essa regra fundamental do silêncio pode ser rompida em dois momentos específicos: logo após uma apresentação, dando gritos de incentivo ao fadista, ou após os sinais de aprovação por parte de fadista.
O fado é um fenómeno lisboeta situado nas zonas mais antigas da cidade de Lisboa, nos bairros tradicionais como Alfama, Bairro Alto ou Mouraria, e é cantado em casas típicas, ou casas de fado, onde a decoração é alusiva à prática fadista. As fotografias e os cartazes com imagens de fadistas são praticamente obrigatórios. Além disso, os objetos do fado, como discos velhos, xailes, guitarras, ou algo que lembre a Lisboa antiga, estão quase sempre presentes. O tempo e o espaço da performance fadista também são dados através da luz. No decorrer da apresentação do fado, exige-se a redução da intensidade das luzes. O ambiente típico de uma casa de fado tem que ter uma iluminação diminuída, ou mesmo apagada.
Quando o ou a fadista acaba de atuar, as luzes são novamente acesas, indicando essa mudança na temporalidade e espacialidade da apresentação fadista. Importa acrescentar ainda que durante a apresentação os espectadores não podem sair nem entrar. O trânsito é permitido apenas no decorrer dos intervalos, ou seja, ao final de um bloco ou no mínimo de um fado.
Os temas mais recorrentes passam pelo amor, a tragédia, as dificuldades da vida, e a saudade, daí o seu tom triste e lamentoso. A ideia do destino como uma força implacável que está para além da vontade humana é essencial para a compreensão desse estilo musical. Assim, o fado, na sua atmosfera, ficou conhecido como uma canção melancólica, triste, caracterizada por uma certa doçura dolorida que se pode notar na voz do fadista o qual, ao cantar o seu fado, passa por mais diversos sentimentos. Mesmo assim, existem também canções eufóricas e alegres.
Outra característica notável do fado nos dias de hoje é sua importância enquanto atração turística. Ao longo das últimas décadas, o fado goza de grande popularidade entre os turistas que buscam conhecer “casas típicas” e assistir a esse ritual nacional que envolve um universo muito mais extenso e rico do que apenas a música e letra.
O fado pode ser dividido em duas categorias fundamentais: fado castiço e fado-canção. O fado castiço, também conhecido como fado clássico ou fado tradicional, é considerado o mais antigo e o mais autêntico. Este, por sua vez, subdivide-se em três espécies – fado menor, fado corrido e fado mouraria –
que possuem um mínimo de elementos fixos (esquemas rítmicos e harmónicos e diversos tipos de acompanhamento que consistem em um motivo melódico constantemente repetido) e uma grande liberdade de improvisação por parte do fadista. O fado menor é composto em tonalidade menor e sobre um tempo lento, o fado corrido em tonalidade maior e executado muito rápido e o fado mouraria, também em tonalidade maior, mas é mais tranquilo e cantante. Sobre esses modelos adaptam-se, então, diversas outras melodias e poemas.
Mas, a existência das melodias básicas é importante porque, permite ao público observar as diferentes formas de interpretação do fadista: Com pequenas variações, diversos outros fados giram em torno desses três que formam o núcleo do fado castiço. Esta estabilização em torno de melodias básicas determina um repertório restrito, que facilita ao ouvinte identificar as características interpretativas do cantor, do qual se espera uma versão pessoal, que parte da escolha de quais versos decide cantar e como se apropria da linha melódica básica e a recria.
À flexibilidade musical dos fados tradicionais opõe-se a uma fixidez do fado-canção, denominado igualmente canto de fado, que surgiu mais recentemente, com as novas formas de espetáculo urbano, como o teatro de revista. No caso do fado-canção, a maior parte dos elementos que permitem uma contribuição mínima dos artistas é fixo. A improvisação vocal é mais limitada devido a alternância entre refrão e estrofes, as melodias são fixas e associadas a um texto fixo e as estruturas harmónicas são mais complexas.
A identidade fadista é construída a partir da entrada no universo simbólico do fado. Embora o fado exija o grande domínio e diversidade de emissão vocal e os seus cantores possuam uma ampla extensão vocal, ter a capacidade vocal não é suficiente. Para ser um bom fadista é necessário que o fado se ama, se sinta e se compreenda para poder ser expresso na voz.
A performance vocal de um fadista é assim construída e valorizada a partir da sua alma de fadista, no fado a técnica vocal não é valorizada, pelo menos no discurso, sem a presença visível e audível da alma fadista. Desta forma, é preferível ter uma voz tecnicamente inferior, mas que expresse mais emoção e mais a alma fadista, ou seja, que esteja mais diretamente conectada com o universo social e simbólico do fado. Uma voz mais técnica ou afinada, mas que expresse menos alma faz de quem canta uma pessoa menos fadista.
A construção do conceito fadista de alma abrange um conjunto de elementos que incluem todo o universo místico e simbólico do fado, o conhecimento da sua história e suas especificidades e integração no contexto fadista desde o início da construção da sua identidade de profissional nesse género musical. Ter alma fadista é conhecer o fado, em termos técnicos e poéticos, e conseguir expressar toda a sua densidade emocional e histórica ao cantar. Assim, o papel do fadista não se limita apenas a ser o de mero cantor ou artista, senão ele constitui um tipo de porta-voz social e cultural dos portugueses.
A qualidade de um fadista é caracterizada pela sua originalidade na estilização, ou seja, na improvisação de ordem rítmica e melódica que é determinada pela sensibilidade, pela espontaneidade, pelo humor e pela ambiência da sala. Por essa razão, não existe unicamente uma forma padrão de cantar determinada melodia, mas há diversas possibilidades de interpretar o mesmo fado.
Como o fado é transmitido pela tradição oral, uma das principais características para a construção da identidade fadista é a filiação aos fadistas de outras gerações. Estas relações intergeracionais e a escolha de obra e vida dos determinados artistas como referência são a forma de se aprender o fado, o que é ser fadista, como se sente o fado e, principalmente, como expressar na voz e na performance fadista todas as peculiaridades do seu universo mítico. Estas referências ajudam na construção de modos de cantar e traduzem-se em códigos muito específicos de performance.
Modos de vestir e performance corporal os fadistas trabalham com códigos muito determinados que se expressam nas roupas e nas técnicas corporais, construídos principalmente das reinvenções das imagens de fadistas consolidados de outras gerações.
A mulher que canta usa geralmente vestidos longos e sempre um xaile nos ombros, sendo este de cor negro. Numa primeira fase, as roupas das fadistas eram extremamente coloridas e chamativas, enquanto atualmente as mulheres vestem-se com trajes e xailes escuros e seu desempenho torna-se discreto e introspetivo. O xaile estava presente no modo de trajar desde a primeira fadista, a mítica Maria Severa, mas tornou-se peça fundamental do vestuário fadista mais tarde, a partir da precursora Ercília Costa. Finalmente, foi nos ombros de Amália Rodrigues que ele se tornou um elemento fundamental na construção da imagem de fadista no mundo. Hoje em dia todas as fadistas utilizam o xaile no seu figurino, seja em apresentações informais, seja em grandes apresentações onde ele é recriado juntamente com o vestido longo.

Playlist:
00:00:19 Tony Reis – Prenda de Natal
00:05:24 Tony Reis – Santa Luzia
00:10:18 Juliana Duarte – O Xaile De Minha Mãe
00:15:34 Juliana Duarte – Cheira a Lisboa
00:18:24 António Terra – Sol da Ribeira
00:22:00 António Terra – Ai se eu podesse
00:25:11 Patricia Fernandes – Meu Corpo
00:30:17 Patricia Fernandes – Eu Tão Só
00:34:39 Fernando Maurício – Tantos fados deu-me a vida
00:38:21 Beatriz da Conceição – Vazio
00:41:42 Hermínia Silva – És Livre
00:45:09 António Campos – Morrendo em saudade
00:49:50 Carlos Macedo – Sou teu trovador
00:52:00 Tristão Da Silva – Folhas Caídas

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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

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Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

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