Sérgio Barreto quer «elevar o potencial da Ovarense» e conta com Campino: «é uma mais valia, mas ainda não sei se fica»
Written by AVfm on 21/01/2019
Em Ovar, o frio de Janeiro parece ter vindo para ficar por uns tempos, obrigando os vareiros a tirar o cachecol do armário.
Mas, quando falamos em cachecol, entenda-se o reconfortante agasalho de malha que protege o pescoço. Isto porque, se estivermos a falar do cachecol de um qualquer adepto da AD Ovarense, esse até pode estar exposto de forma orgulhosa mas, por estes dias, não serve para enganar as baixas temperaturas. Bem pelo contrário.
De facto, pelo Marques da Silva, o mercúrio dos termómetros não podia estar mais elevado. Desde a chegada da direção liderada por António Godinho, a casa alvinegra tem vindo a ser arrumada e a mudança mais visível foi aquela que se deu na equipa feminina da Ovarense.
Em menos de uma semana, o clube anunciou a saída do técnico Paulo Campino e rapidamente encontrou o seu substituto. O escolhido para o cargo é Sérgio Barreto, nome com créditos firmados no futebol feminino – venceu uma Supertaça ao serviço do Valadares de Gaia. O novo treinador da Ovarense terá António Tavares, um homem conhecedor da realidade vareira, como seu adjunto; e Sónia Silva, capitã de equipa até há bem pouco tempo, na função de diretora.
Revelando «o muito agrado» com que assume o projeto da ADO, Sérgio Barreto foi, a par de Sónia Silva, o convidado especial do programa Passe de Letra, na Rádio AVfm.
O Professor de 46 anos já assumiu funções no futebol masculino, mas confessa que é especial voltar à vertente feminina: «o futebol feminino entrou na minha carreira e, desde então, tornou-se um dos objetivos mais cativantes para mim».
Quando recebi o convite da Ovarense fiquei muito satisfeito.
«Quando recebi o convite da Ovarense fiquei muito satisfeito», confessa com naturalidade. «Reuni-me com o presidente, chegamos a acordo e venho para acrescentar algo mais. Vou tentar aproveitar o que de bom foi feito até aqui, mas quero dar um cunho pessoal à qualidade que as jogadoras têm».
Qualidade essa que nunca é demais para o objetivo traçado no início da temporada e que não muda de figura com a chegada de Sérgio Barreto. A manutenção na Liga BPI é o foco primordial e ainda não é dado adquirido.
A «intensidade» para chegar à tranquilidade
O treinador da Ovarense adianta: «pediram-me para garantir a manutenção.»
Pediram-me para garantir a manutenção.
Não é uma novidade que a permanência no principal escalão do futebol feminino é o grande objetivo para 2019 da Ovarense. As mudanças que aconteceram não alteram em nada essa diretriz da formação vareira e o próprio Sérgio Barreto já começa a fazer contas à vida.
Neste momento, a Ovarense tem 3 vitórias no campeonato e está segura com 8 pontos de vantagem sobre os lugares de descida. Porém, e mesmo com os lanterna vermelha Boavista e Vilaverdense a uma distância considerável, Sérgio Barreto não embandeira em arco: «sabemos que temos uma margem boa, mas não suficiente. Basta termos dois jogos maus e os adversários terem dois jogos bons para ficarmos outra vez em cima da linha de água».
Preparação é, por isso mesmo, palavra de ordem no Estádio Marques da Silva. De entre as filosofias que entrarão em vigor com a nova equipa técnica, o ritmo elevado e aplicação nos trabalhos parecem ser das mais vincadas. A Ovarense prepara-se, portanto, para ser uma equipa mais intensa.
Transmitiram-me a informação de que Ovarense tem uma equipa com qualidade e, nos dois treinos que orientei, confirmei isso mesmo.
«Transmitiram-me a informação de que Ovarense tem uma equipa com qualidade e, nos dois treinos que orientei, confirmei isso mesmo», começou por afiançar Sérgio Barreto. «Gostei da aplicação das jogadoras e ainda vamos aumentar a intensidade».
Ainda assim, quando confrontado com uma turma que está habituada a duas sessões por semana e que evolui sobretudo em situação de jogo, o treinador da Ovarense desmarca-se de antigas práticas: «não estou habituado à falta de entrega e, onde estive, as jogadoras eram de topo e não faltavam ao compromisso. Vamos treinar três vezes por semana porque, quando não se aplica algo no treino, também não se consegue no jogo».
A componente técnica da Ovarense, elogiada por Sérgio Barreto, será ainda auxiliada pelo reforço do trabalho físico: «a qualidade está lá, mas se não conseguirmos fisicamente, não sobressaímos.» Assim, no remate final ao assunto, o técnico deixa uma máxima que pode criar escola: «temos de estar mais bem preparados e treinar nos limites para jogar nos limites».
Ideias positivas para uma segunda volta de campeonato que tem potencial para ser mais produtiva que a primeira e onde a Ovarense vai procurar «corrigir alguns resultados negativos» que estão ainda bem frescos na memória de todos: «o objetivo de qualquer treinador é ganhar sempre e é o que vamos tentar fazer».
Ganhar, sim. Mas com que matéria prima?
Querer ganhar é importante. Mas, mais ainda, é ter argumentos para o fazer.
Por um lado, Sérgio Barreto não se preocupa com a baixa média de idades do seu grupo e afirma que «o bilhete de identidade não conta e a experiência vai-se ganhando com o jogo.» Por outro, o técnico alvinegro consegue encontrar outros pontos fracos na Ovarense: «há algumas lacunas. O plantel tem qualidade mas não é extenso e é difícil conciliar o facto de muitas jogadoras atuarem pelas Seniores e pelas Juniores.»
Porém, quando questionado sobre a possibilidade de reforços, a mensagem é de confiança nas atletas que estão à sua disposição: «a equipa tem muitas jogadoras de qualidade e até cheguei a referenciar algumas para irem para o Valadares quando lá estava.»
Antes de vir alguém para a Ovarense temos de contar com quem está cá. Vamos procurar elevar o potencial que elas têm […] e, se encontrarmos alguma mais valia para a equipa, aí sim, poderão haver entradas.
Entradas (hipotéticas) que podem ajudar à solidificação da defesa da Ovarense – aquele que é reconhecido como o mais débil setor da equipa. Isto, ainda que Sérgio Barreto não dê muita importância às estatísticas que apontam a ADO como a terceira defesa mais batida do campeonato: «vou procurar evitar que soframos tantos golos, mas não me importo de sofrer desde que marque mais do que os outros».
Quem terá lugar cativo no quarteto defensivo da Ovarense é Mariana Campino. A jovem lateral, de forma inevitável, viu-se como que arrastada para dentro da polémica saída do seu pai, Paulo Campino. No entanto, a camisola 23 conta mesmo para Sérgio Barreto, embora ainda haja dúvidas quanto à sua continuidade no projeto vareiro.
«Estou à vontade para falar sobre a Mariana Campino porque, ainda no ano passado, fiz de tudo para a levar para o Valadares de Gaia e não consegui. Já falei com a jogadora e tentei que percebesse que, para mim, é uma mais valia e que gostava de contar com ela. Ainda não sei se vai ficar – é uma decisão dela – mas tanto eu como a direção e a Sónia Silva já demonstramos a vontade para que ela continuasse».
A etapa que se segue no projeto feminino
Se a composição da equipa da Ovarense ainda gera algumas dúvidas, o futuro do projeto feminino ganhou nova vida e continua a ser uma aposta sólida do clube.
Sónia Silva, que já foi capitã dentro de campo, assume agora o papel de diretora, «uma responsabilidade e um desafio enorme» para alguém que vive a evolução da equipa feminina desde o primeiro suspiro e espera munir-se dessa experiência para ajudar: «deixar o futebol foi uma decisão minha […] e esta nova função vem de um voto de confiança da direção e espero estar ao nível».
Ao contrário de Sérgio Barreto que chegou agora ao clube, Sónia Silva esteve presente em todas as conquistas da Ovarense e também nos momentos mais conturbados. A antiga defesa falou sobre a saída de Paulo Campino e admitiu que «estava à espera» deste desfecho: «a equipa sabia das adversidades que havia entre a direção e o Paulo Campino. Estávamos à espera da saída, mais cedo ou mais tarde.»
A equipa sabia das adversidades que havia entre a direção e o Paulo Campino. Estávamos à espera da saída, mais cedo ou mais tarde.
Agradecida pelo legado deixado pelo antigo técnico e presidente do clube, Sónia Silva vai mais longe e não tem dúvidas em dizer que «o futebol feminino está onde está graças ao Paulo Campino».
«Somos tricampeãs em Juniores e, em três anos de Seniores, subimos ao escalão máximo do futebol português. Só temos de agradecer ao Paulo Campino e tenho a certeza que, no futuro, nos vamos cruzar dentro de campo».
Sobre a forte ligação emocional que era característica chave da equipa e perante a possibilidade desta se perder na nova Ovarense, Sónia Silva é taxativa e acredita que a equipa vai voltar a dar cartas.
«O Paulo Campino criou uma ligação muito forte no feminino, foi um “pai” para muitas destas jogadoras jovens. […] A equipa sentiu a saída, mas somos profissionais e temos de olhar para a frente. As pessoas passam, o clube fica e só podemos estar focadas na manutenção».
Confirmando o que já tinha sido dito por Sérgio Barreto, a diretora da Ovarense também abre a porta à continuidade de Mariana Campino: «o caso é complicado mas, neste momento, o clube conta com todas as atletas.
Temos de estar comprometidas com o clube e não com pessoas e, por isso, a Mariana tem de decidir pelo melhor.»
Temos de estar comprometidas com o clube e não com pessoas e, por isso, a Mariana tem de decidir pelo melhor.
Neste momento, Sónia Silva já trabalha com olhos no futuro e espera chegar a Maio com a manutenção alcançada e com a Taça de Aveiro conquistada. «Temos potencial para estar mais acima na classificação. Ainda estamos numa fase de adaptação ao novo treinador, os métodos de trabalho têm sido diferentes e acredito que vamos conseguir cumprir os objetivos».
O que se segue na missão «cumprir os objetivos»
No primeiro contacto com os adeptos, Sérgio Barreto e a nova Ovarense recebem, no Marques da Silva, o GDC A-dos-Francos. Um jogo a contar para a 14ª jornada da Liga BPI e que assume importância máxima na luta pela manutenção.
Atualmente, o A-dos-Francos é 9º classificado e está apenas uma posição acima das vareiras. O resultado de 3-0 registado a favor das jogadoras das Caldas da Rainha na primeira volta de campeonato não será exemplo para o que pode acontecer no próximo domingo. A Ovarense está mais estabelecida dentro da realidade e exigência da prova e quererá mostrar serviço aos seus apoiantes.
Em caso de vitória, a Ovarense poderá beneficiar ainda do desfecho do jogo entre Boavista e Vilaverdense. Os dois últimos classificados medem forças no terreno das axadrezadas e, pelo menos um deles, perderá terreno esta semana.
A Ovarense quer igualar ou melhorar o registo de 3 vitórias alcançadas na primeira volta. Ultrapassados os jogos contra Sporting e SC Braga, começam agora os verdadeiros desafios das alvinegras.
Reveja, na íntegra, toda a entrevista de Sérgio Barreto e Sónia Silva ao Passe de Letra, na Rádio AVfm: