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Ovar em Jazz’23: 2º dia do evento prosseguiu com Carmen Souza e a sua energia contagiante

Escrito por em 27/04/2023

Antes de algo mais escrever, eis a primeira coisa que eu penso que se deve realçar sobre Carmen Souza: mais do que a sua versatilidade, dinâmica e linguagem musical riquíssima, esta artista atua com uma energia contagiante, fervorosa e ardente, de uma forma que eu nunca tinha visto antes (no bom sentido). É simplesmente indescritível todo o poder presente quer na sua voz potente e carregada de carisma, quer na sua música, dotada de um ritmo extremamente cativante e que deixa qualquer um de bom humor com a sua alegria aguda, sem barreiras.

Portanto, se tenho algo a dizer sobre Carmen Souza, sobre a sua música tão viva, tal como a própria, com um talento desmedido e estilo musical sem igual? Sim e começarei precisamente por este último.


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Para mim, esta foi uma característica deveras impressionante de que já tinha noção, mas que me saltou à vista desde o início do concerto: a mistura entre jazz e música cabo-verdiana.

Nascida em Lisboa, filha de pais cabo-verdianos, Carmen Souza sempre esteve em contacto com esta parte da sua herança e a respetiva cultura, acabando por a tornar parte da sua estética musical – e que fusão interessantíssima que dela adveio.

O uso da etnomusicologia à mistura com o jazz na obra desta cantora concede-lhe um sabor inigualável e original – um vigor e potência permeantes, o ritmo sempre tornando os espetadores alegres e sedentos por mais (ou pelo menos eu estava a gostar tanto que passei o espetáculo quase todo a abanar a cabeça), e, no geral, uma jovialidade e paixão pela Música em si que eram pura e simplesmente imperdíveis.

Mas atenção: o ritmo não era a única coisa de contagiante na música de Carmen Souza – há, também, que destacar e reconhecer a voz para lá de magnífica da cantora.

Pois, afinal, não é à toa que ela é comparada às mais renomeadas cantoras de jazz, desde Billie Holiday a Nina Simone. A polivalência, cor e caráter vibrante da sua voz, aliadas a um leque inacabável de diferentes técnicas e texturas, realmente enalteceram ainda mais as suas canções, e o seu timbre e calor na sua voz são mesmo algo de fenomenal – sem esquecer a sua presença em palco e interação com o público incríveis, que tornaram o espetáculo ainda mais agradável e entusiasmante.

E eis, ainda, uma coisa que eu aprendi com a grande Maria João há não muito tempo atrás – como é maravilhoso usar a nossa voz para imitar outras coisas.

Carmen Souza, como não podia deixar de ser, também usa essa técnica desde pequenina – como tive a incrível oportunidade de constatar em entrevista com a artista, desde criança que Carmen ouvia os discos do pai e começou a imitar vocalmente solos dos demais instrumentos, como os de John Coltrane. E é formidável a liberdade, a fluidez, o espectro vasto de coisas que ela faz apenas com a voz – porque, muito sinceramente, quando ela canta, ela vai onde quer. Quando quer (ou assim me pareceu).

E, mais do que isso, sempre com um espírito cheio, de uma leveza de humor e vivacidade que conquistam qualquer um que a ouça.

Para melhorar ainda mais as coisas (e a sério que as expetativas já estavam muito altas), fomos brindados com um repertório muito eclético: tivemos direito não só a temas do novo álbum agora em digressão, “Interconnectedness“, como a temas do álbum “The Silver Messengers” (homenagem a Horace Silver), entre outros, que, para mim, demonstraram a quantidade extraordinária de facetas de Carmen Souza, desde a mais jovial, à mais inocente, à mais densa, no entanto nunca perdendo uma atmosfera imensamente ativa, fluida, voadora, e, é claro, deliciosa e regozijante.

Aliás, para mim, o que Carmen Souza é em pessoa, é em palco. Uma pessoa risonha, vivedoura, cheia de alegria e carisma, um carisma que ela trasborda e respira, algo de verdadeiramente magnetizante que transmite a todos os que estão à sua volta.

Ela canta e toca ao mesmo tempo, imita aquilo que bem lhe apetecer, faz o que, pessoalmente, considero ser uma das melhores fusões na história do jazz, e ainda complementa o seu talento inegável com uma cultura riquíssima que tem a bondade de nos dar a conhecer, uma emoção arrebatadora na voz, uma paixão possante, e uma positividade, mas acima de tudo uma empatia extraordinárias.

E é depois de ter vivenciado uma experiência de tal ordem fabulosa, que aproveito para deixar aqui o meu conselho: um dia menos bem-disposto? Um toquezinho especial para trazer a felicidade ao de cima? A música de Carmen Souza faz maravilhas.
Ou melhor, para quê um contexto? Quem é que precisa de uma mera razão para ouvir música tão especial? Mais vale reformular o meu conselho: ouça-se Carmen Souza. Ouça-se a música desta artista, pois, se há coisa que este concerto provou, é o quão especial ela é.

Para quem decidir ouvir, acredito piamente que não se irá arrepender.

Deixo o registo da entrevista realizada a Carmen Souza, no âmbito seu concerto no Ovar em Jazz’23:

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Fotos: Direitos Reservados
Áudios: Jaime Valente
Texto: Mariana Rosas

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