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Braço de ferro do dérbi mostrou Ovarense com espírito de aço

Escrito por em 23/01/2018

Domingo após domingo, quando a bola rola no Campeonato Safina, o braço de ferro entre emblemas aveirenses é duro e só para homens de barba rija. As veias emergem, o suor espirra e o ambiente aquece. O mano a mano é sempre imprevisível e até os mais musculados podem cair nas batalhas que travam.

No entanto, há um fator do qual a AD Ovarense se mune e que pode fazer a diferença nesta demanda pela elite do futebol distrital: a «raça vareira». Tantas e tantas vezes referenciada, esta dopamina de força e querer tem estado ausente do seio da equipa, mas quando surge… aí, a história dificilmente não se escreve de alvinegro.

Um espírito de aço que (finalmente) reapareceu no domingo passado, com um Estádio Marques da Silva a fazer lembrar um caldeirão a ebulir e uma equipa da ADO que cavalgou sobre um suposto candidato à subida de divisão, o CD Estarreja.

A hora era de dérbi e a Ovarense desesperava por pontos. Uma receita que gerou 90 minutos de futebol intenso e onde os comandados de Artur Marques provaram ser muito mais do que o 17º lugar que ocupavam à partida para esta 16ª jornada. Os vareiros foram mesmo capazes de encostar o Estarreja ao último terço durante grande parte do encontro e o único revés da partida terá sido mesmo o facto de não terem conseguido ir além de um empate de 1-1.

O herói do golo foi Parreira, um dos melhores jogadores em campo. Provando que merece ser mais vezes titular, o camisola 17 viu-se coadjuvado por grandes exibições de Filipe Lírio e Artur. Este último apareceu no centro do ataque e dando aso a uma cartada tática de Artur Marques que se revelou extremamente acertada.

Os avançados da Ovarense foram móveis e de difícil policiamento para os defensores do Estarreja. Para além disso, a ausência de Mário Jardel (ou outra qualquer referência aérea) na posição de ponta de lança obrigou a formação vareira a apostar menos no seu habitual jogo direto.

Assim, mesmo com um relvado em condições débeis, esse foi um bom pronúncio para a qualidade do jogo. A Ovarense ganhou com os seus criativos em campo e foi guerreira a ponto de ver-se a perder cedo e nem assim esmorecer.

Ainda antes do golo dos visitantes, já a baliza do Estarreja era ameaçada pelos sedentos jogadores da casa. Aos 3 e 6 minutos, faltaram apenas as emendas à boca da baliza para que a Ovarense saísse na frente. Primeiro foi Artur a desenvencilhar-se do guardião Nuno Dias e a servir Lírio para que o médio ofensivo não conseguisse o remate; e depois foi David Rocha, numa incursão pela esquerda para o cruzamento, a dar bem em Fred que chegou atrasado à assistência.

Mas, como já referenciado, foi mesmo o Estarreja a marcar primeiro – e através de um penálti convertido aos 16′. Da marca dos 11 metros, o capitão Gustavo não desperdiçou. Um castigo máximo que gerou muitos protestos nas bancadas mas que surgiu de falta clara de Fábio Pereira sobre o estarrejense, Vasco.

O árbitro, António Resende, até mereceu elogios por parte de Artur Marques no final da partida. Porém, após o lance da grande penalidade, raramente lhe foi dado descanso pelos adeptos da Ovarense. Facto é que o juiz permitiu bastante anti-jogo aos homens do Estarreja, principalmente a Nuno Dias, guarda-redes que demorou sempre a repor a bola em campo e se lesionou várias vezes.

Quase parecia que a Ovarense iria entrar numa toada de fúria negativa. O banco dos vareiros insurgia-se em cada lance (o suplente Cocas até foi admoestado aos 19 minutos) e os protagonistas dentro de campo pareciam já frustrados com o decorrer do jogo. Só que, aos poucos, a Ovarense resfriou os ânimos e voltou à sua melhor cara.

O central Sampaio deu o mote com um livre direto que transformou num tiraço do meio da rua, aos 26′. Nuno Dias voou para uma defesa estonteante e abriu o livro para aquela que seria uma tarde inspirada.

Aos 31′, aliviou a punhos um canto de Tigas e ainda voltou ao seu posto para uma parada a um remate de Parreira que surgiu na segunda vaga. 10 minutos depois, até largou a bola na área após novo canto, mas viu Femi a não conseguir faturar.

O Estarreja parecia querer gerir a vantagem que lhe «caiu do céu», mas estava subjugado pelas investidas da Ovarense. Com o dérbi longe de terminar, os comandos de Sandro Botte sabiam que precisavam de abordar a segunda parte com nova atitude. Algo que, efetivamente, aconteceu.

Só que, do banco de suplentes da Ovarense, Jean (Artur Marques continua suspenso) mexeu pela primeira vez no xadrez aos 54′ e lançou Mário Jardel. O ponta de lança rendeu Dayo Femi e aplicou o desejo de «tração à frente» que a sua equipa técnica tentava incutir.

Com Jardel no corredor central, Artur a diambular para a direita e Fred atrás do ponta de lança, a Ovarense voltou a ser acutilante e, pouco depois, foi mesmo premiada com o golo do empate.

Aos 64′, Tigas bateu um livre na direita e fez a bola chegar ao segundo poste onde, oportuno, apareceu Parreira para o cabeceamento. O esférico passou a linha de golo por pouco, mas o suficiente para que a justiça no marcador fosse reposta.

Os festejos efusivos de Parreira levantaram o estádio e, 2 minutos depois, um novo cabeceamento de Jardel quase gerava uma réplica desse momento. O filho de Super Mário fez lembrar o pai na elevação, mas pecou no direcionamento do golpe.

Wellington apareceria, pouco depois, lançado do banco para o lugar de Filipe Lírio. O brasileiro voltou a revelar um individualismo que tem de ser moldado, mas foi capaz de imprimir ainda maior velocidade e repentismo à Ovarense.

O Estarreja via-se em apuros e encostado às cordas. Por isso, finalmente decidiu sair para o ataque com maior frequência. E, em 3 minutos, podia ter mesmo arrumado o assunto. Aos 74′, Biscaia foi gigante ao negar o golo a Lúcio; e aos 76′, foi Fábio Novo a desperdiçar na cara da baliza.

O jogo estava completamente partido e a Ovarense precisava de dar um passo atrás de modo a não colocar em cheque o empate que tanto lhe custou alcançar. Artur saiu esgotado e, para o seu lugar, Diogo Russo apareceu para emendar o meio-campo.

Equilibrados, os alvinegros quase podiam ter sido felizes aos 87′, mas Nuno Dias e as suas luvas não queriam deixar a festa dos 3 pontos ficar no Marques da Silva. Tigas pediu licença com um remate em jeito, o guarda-redes do Estarreja fechou a porta com uma estirada ao solo.

Os 5 minutos de compensação dados por António Resende não foram suficientes para desfazer o empate e o jogo terminou com os jogadores deitados na relva e pouco contentes pela divisão de pontos.

A Ovarense foi melhor durante mais tempo, ganhou moral para novos embates, mas fica com a sensação que lhe fugiram 2 pontos por entre os dedos. Por seu turno, o Estarreja afasta-se na corrida aos lugares cimeiros da classificação porque, apesar de manter o 6º lugar, apenas tem o U. Lamas (5º) bem perto na tabela.

Noutros campos, Carregosense e Canedo perderam balanço na luta pela manutenção. Como a Ovarense, apenas o Famalicão conseguiu chegar ao pontos. A ADO mantém o 17º lugar do Safina, mas sabe que basta uma vitória em Castelo de Paiva no próximo domingo – e uma conjugação de resultados negativos para os rivais – para que saia dos lugares de despromoção.

A primeira volta do campeonato está prestes a fechar e a Ovarense quer selá-la com chave de ouro: a 3ª vitória em 2017/18.

Pedro Silva foi o repórter da Rádio AVfm no Estádio Marques da Silva. Ouça as declarações dos técnicos no final do Ovarense-Estarreja:

  • Declarações AD Ovarense | Artur Marques:

 

  • Declarações CD Estarreja | Sandro Botte:

 

Ficha de jogo

AD Ovarense: Samuel Biscaia, Parreira, Sampaio, Fábio Pereira (cap.), David Rocha, Dayo Femi (Mário Jardel, 54′), João Paulo, Filipe Lírio (Wellington, 72′), Fred, Tigas, Artur (Diogo Russo, 83′).

CD Estarreja: Nuno Dias, Fazenda, João Pinho, Gustavo (cap.), João Pedro, André Silva, Duarte Alves, Fábio Novo (Gonçalo, 77′), Vasco, Pedro Oliveira (Lúcio, 54′), Óscar Silva (Mino, 70′).

Golos: Gustavo (16′), Parreira (64′).

Veja a fotogaleria do encontro:

 


Fotos: António Silva
Texto: Pedro Silva
Áudio: Jaime Valente


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