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Alma Lusitana

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Antibióticos – A Responsabilidade é o melhor remédio

Escrito por em 18/11/2020

– Estou com uma gripe daquelas, nem me aguento em pé! – disse o Manuel.
– Toma um antibiótico que ficas bom num instante! – aconselhou vivamente a Maria.
Tudo errado, mas a história continua:
– Toma aquele dos 3 dias, é impecável, até te arranjo. Tenho uma caixa em casa! – prontificou-se a Maria, para ajudar o seu amigo.

E não é que o Manuel tomou e em 3 dias ficou bem. E porquê?

A gripe é uma infeção vírica e os antibióticos não atuam nos vírus. O que se passou foi a evolução natural da doença e o Manuel, ter ficado curado graças à luta do seu sistema imunológico (as suas defesas) contra o vírus da gripe. Mas o Manuel a e Maria ficaram a pensar que o milagroso antibiótico curou a doença, e assim uma crença e atitude perigosa, põem em risco a saúde do Manuel e de toda a sociedade.

Os antibióticos são medicamentos extraordinários que salvam vidas, mas que estão a sofrer pelo seu sucesso, pois o seu uso por todo o mundo, nos humanos e animais levaram ao desenvolvimento de resistências pelas bactérias. E muitas destas, algumas até chamadas de “superbactérias” conseguem mesmo resistir aos antibióticos e levar à morte do hospedeiro (o nosso Manuel, que durante a vida tomará vários antibióticos desnecessários, selecionará bactérias resistentes que um dia podem oportunisticamente provocar uma infeção fatal).

Este assunto é muito sério e preocupante. Já se morre mais em Portugal por ano por infeções associadas a cuidados de saúde (as tais bactérias resistentes) do que por acidentes de viação.  A Organização Mundial de Saúde mostrou a seguinte previsão realista e assustadora. Se o uso de antibióticos se mantiver da forma atual (uso excessivo e desadequado nos humanos e animais), as resistências e consequente falha do tratamento podem matar 10 milhões de pessoas até 2050, e por essa altura, infeções banais de hoje poderão ser fatais.

Este assunto é sério e preocupante para todos nós.

Eurico Silva

O que podemos fazer?

Em primeiro lugar está a prevenção. Se menos infeções houver, menos antibióticos utilizaremos. Medidas como higienização das mãos e o uso de máscara reduzem comprovadamente a transmissão de certo tipo de infeções. A vacinação das doenças preveníveis tem também elevado impacto na redução das infeções e da utilização do antibiótico. Já que falamos de gripe, apesar de ser causada por um vírus pode levar ao desenvolvimento de uma pneumonia por bactérias e aí sim, com necessidade de antibióticos. Vacinando para a gripe estamos também a prevenir pneumonias. Tomar um antibiótico não acelera a cura da gripe! O Manuel tomou um de 3 dias, que é potente, com um largo espectro de ação, ou seja “mata” indiscriminadamente muitos tipos diferentes de bactérias e quanto mais largo o espectro mas resistências provoca.

Em segundo lugar usar o antibiótico como um bem precioso! Devemos usa-lo só quando necessário e não pressionar os profissionais de saúde a prescrever ou dispensar antibióticos desnecessários. Devemos ainda usar o antibiótico na dose certa (as tomas e horas corretas) e durante o tempo necessário (nem todas as infeções implicam tomar a caixa toda). Não devemos fazer automedicação, isto é, tomar antibióticos por própria iniciativa.

Em terceiro lugar devemos procurar conhecer um pouco mais sobre as doenças. Quantos saberão que a maioria das amígdalas com pus acontecem em doenças virais (que não necessitam de antibiótico) e que quase todas as unidades de saúde de Portugal possuem um teste rápido com zaragatoa que ao colher material nas amígdalas permite saber se a infeção é bacteriana ou viral?

Em quarto lugar, a Covid19, veio e gerou um aumento o uso de antibióticos o que quer dizer que temos ainda mais resistências com que lidar.

O assunto é sério e preocupante. Faça parte da solução. Prevenção, educação e uso racional do antibiótico. Procure mais informação e seja um agente de mudança. Se encontrar os amigos Manuel ou Maria explique-lhes que as decisões individuais, neste assunto, interferem também com a saúde de todos, pois todo o antibiótico desnecessário vai promover o aumento de resistências nas bactérias de todos nós!

Proteja o antibiótico pois ao longo da sua vida vai necessitar deste remédio.

Por Eurico Silva:
– Médico de Família, na Unidade de Saúde Familiar (USF) João Semana (Ovar),
– Membro do Grupo de Estudos em Doenças Respiratórias, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (GRESP/APMGF),
– Elemento da equipa gestora do Programa de Apoio à Prescrição de Antibióticos do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Baixo Vouga,
– Coordenação Regional do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC).

Artigo elaborado no âmbito do Dia Europeu do Antibiótico, assinalado a 18 de Novembro.


Fotos: Direitos Reservados
Texto: Eurico Silva


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