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BASQUEIRAL (14 e 15 junho): o Festival alternativo que é de primeira escolha para tantos está de volta!

Escrito por em 13/06/2024

Está aí à porta mais uma edição do BASQUEIRAL e eu continuo a procrastinar… Na verdade, ando a fazê-lo desde o warm-up que foi muito mais do que isso… se dois dias com oito concertos se pode considerar um aquecimento, há por aí muitos festivais que nem a isso chegam…
O curioso no meio de tudo isto é que não sou preguiçoso e até gosto de escrever.
O sinistro é que os textos não me saem e não é por falta de coisas para dizer.
O estranho é que me perco, cada vez que abro a folha vazia do meu processador de texto, em inúmeras memórias. Em detalhes que encontro no BASQUEIRAL e que não vislumbro em mais lado nenhum!

E eis que chego a mais uma encruzilhada de ideias: o que devo fazer? Pedir desculpa por ainda não ter escrito nada sobre o referido aquecimento, nem sequer ter publicado as fotos? Fazer de conta que já o fiz e limitar-me a debitar os projetos que no próximo fim de semana vão subir aos palcos do BASQUEIRAL? Dar a minha versão das experiências vividas?!…

Não é fácil, quando sentimos uma ligação de certa forma umbilical com aquilo que acontece nos jardins e no Museu de Santa Maria de Lamas. Quando, apesar de nada termos a ver com aquilo, o sentimos como se fosse um pouco nosso… E talvez seja esse o grande segredo do BASQUEIRAL: um festival de afetos, que nos envolve e nos faz sentir em casa. Um lugar especial, onde pessoas igualmente singulares preparam tudo com tal minúcia e carinho que não há como não nos sentirmos especiais quando lá chegamos…

Diz-se muitas vezes que nada acontece por acaso. E não terá sido isso que fez com que tenha estado em todas as edições do BASQUEIRAL à exceção da primeira. Só conheço, portanto, o evento naquele local. E se há coisa que tenho a certeza que lá me levou foi o respeito que senti por parte das pessoas que organizam o festival pelo trabalho que desenvolvo, em conjunto com a minha equipa. Um genuíno sentimento de que nós poderíamos ajudar o menino dos olhos deles a agigantar-se. Receberam-nos de braços e coração abertos, criaram connosco uma ligação, de tal forma que não consigo dizer “este ano não vou”. Porque quero sempre ir…

Muitos, ou poucos, os que chegaram até aqui; devem estar a pensar que estou sob a influência de alguma substância enquanto discorro sobre o BASQUEIRAL. Enganam-se redondamente. Outros devem achar que estou a fazer um favor à malta de Santa Maria de Lamas. Como se eles precisassem disso para alguma coisa! Haverá mesmo quem ache que preciso de tratamento psicológico por estar a debitar frases que dizem tudo menos o esperado. Não descarto essa possibilidade…

Acredito até que quem já por lá tenha passado sinta agora a pele a arrepiar. Consiga fechar os olhos e recordar momentos épicos de alguns concertos que lá assistiu. Tenha facilidade em lembrar-se de rostos que só por lá encontra, dos quais acabou por saber o nome próprio…

Aquilo que posso dizer aos que nunca se atreveram a ir ao BASQUEIRAL não passa dum chavão: não sabem o que têm perdido… e ainda estão a tempo de o perceber este ano, já no próximo fim de semana!

O BASQUEIRAL acontece num local único. Para todos os lados que olhamos há pedra, não poucas vezes em formatos e figuras inesperadas. O recinto tem um lago. Tudo é envolvido por um jardim. O palco maior, porque pode não ser correto chamar-lhe principal, tem um relvado à frente. Mas também mesas e bancos de pedra. O menor fica de costas para o Museu de Lamas. De costas sim, mas não voltadas, muito pelo contrário. O Museu de Lamas, que está sempre aberto durante o BASQUEIRAL e já faz parte dele, pode ser assustadoramente belo. Ou surpreendentemente sinistro. É interessante e desempenha um papel cada vez maior e mais importante num festival que há muito deixou de ser só música…

É por lá que o braço armado que designam de BASQUEIRART tem crescido e dado trunfos. É por lá que acontecem alguns dos concertos mais intimistas que assisti. É por lá que existem corredores e mais corredores, salas e salinhas, recantos e galerias, tudo carregado de arte sacra. É por lá que a cortiça assume um protagonismo artístico. É por lá que existe uma sala surpreendentemente imensa que tem acolhido exposições de inteligente intervenção, a par de dificílima concretização. É nessa sala que têm acontecido os concertos de aquecimento do BASQUEIRAL. E não deixa de ser surpreendente que um Museu abra de forma tão escancarada as suas portas a expressões artísticas tão diversas e mesmo alternativas. De uma forma tão natural, que essa surpresa acaba por não existir…

E agora sim, parece-me ser o momento ideal para falar do warm-up deste ano. Dois dias plenos de música e de detalhes. Desde os autocolantes no chão a indicar-nos o caminho até à (dita) Sala da Cortiça, até à pouca luz que confere ao espaço um ambiente único. Desde o esperado até ao improviso. Desde o comum até à provocação, houve por lá momentos para tudo. E bondade. A bondade de uma organização que vende um passe geral que custa meia dúzia de trocos e oferece, para além de 14 concertos, uma exposição, instalações artísticas, momentos para os mais novos, uma feira, restauração condigna, barraquinhas de cerveja (quase) sem filas, decoração do jardim, parque de campismo e sei lá mais o quê. E que, como se isso parecesse pouco, ainda brinda os titulares desses papelinhos mágicos com mais 8 concertos em duas noites. Assim só para abrir o apetite. Como se fossemos ali e voltássemos daqui a nada…

Vamos puxar a culatra atrás, até 22 e 23 de março…
Na sexta-feira, por desistência inesperada dos TRAVO, por motivos de doença, a noite começou com GATOR, THE ALLIGATOR a chegar em cima da hora, a montar o material no palco à frente de todos e a fazer o sound check nas mesmas condições. Seriam eles a abrir as hostilidades, numa oportunidade não desperdiçada, tanto pela banda em palco, como pelo público. Num BASQUEIRAL alternativo, mas eclético, seguiu-se a vez da palavra, com NERVE a mostrar porque é um artista de culto. CONFERÊNCIA INFERNO apresentaram-se maduros e inspirados, com a hora a ficar já um pouco adiantada. Para surpreender um pouco, a noite terminaria com PATMAC, FILIPE SARAIVA e MC SOOBA, numa mistura de DJ Set com improviso e performance…

« de 47 »

No sábado, somos surpreendidos por um palco no chão, em frente ao palco, que nem por isso era alto e não apresentava, como é apanágio do BASQUEIRAL, qualquer tipo de barreira entre o público e os artistas. Foi aí que arrancou a noite, com a inesquecível energia de LANDROSE, o belga one man show que criou um semicírculo de corpos a abanar ao ritmo frenético da bateria à sua volta. Seguiram-se os UNSAFE SPACE GARDEN. Iguais a si próprios e sempre diferentes, em noite de regresso, divertiram-se e transmitiram alegria, juntamente com ritmos inesperados, arranques, paragens e solos a fazer lembrar Zappa. E por falar em reencontros, eis que sobem ao palco os belgas LA JUNGLE, para mais uma dose de pura energia, improviso (quase) descontrolado e muitos decibéis. Para terminar o warm-up, subiram ao palco (talvez) as mais sensuais DJ’s do nosso panorama musical. THE EMA THOMAS apresentaram-se com boas batidas eletrónicas e belos corpos femininos a insinuar a nudez. Para estimular ainda mais o imaginário estiveram sempre rodeadas de símbolos fálicos e dançaram provocando o público e surpreendendo em final de noite…

« de 50 »

E já que iniciamos uma viagem no tempo, vamos agora puxar a fita à frente, fazendo uma paragem a 18 de maio. O dia em que o BASQUEIRAL inaugurou mais uma exposição fotográfica de grande formato. E de grande impacto social e humano… Reunindo uma vez mais um conjunto de instantâneos captados pelos fotojornalistas da FRANCE PRESSE, a mais antiga agência noticiosa do mundo, desta feita em estreia; o MUSEU DE LAMAS arrisca-se a ser novamente premiado pela mostra. Seja pelo conteúdo, oportuno, incisivo, chocante e simultaneamente belo; seja pela instalação artística que obrigou, uma vez mais, os VOLUNTÁRIOS da organização a carregar, de carro de mão, os escombros de uma guerra que, não sendo a nossa, ali nos entra pela alma dentro sem pedir licença. “Danos Colaterais” fará o seu percurso até 18 de agosto, para lá das datas gordas do festival, colocando-se ao lado dos inocentes e alertando para um conflito onde estes são cada vez mais esmagados. A guerra, as guerras, estarão no centro das atenções em Santa Maria de Lamas, com uma mensagem de que as ditas só servem para disseminar (ainda mais) o ódio e a discórdia. Serviço público, portanto!


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Regressados que estamos ao tempo presente, este é o tempo de vos dizer que o BASQUEIRAL arranca já amanhã. Deixamos abaixo o line up de dois dias que serão facilitadores de boas memórias a todos aqueles que digam presente. Numa edição em que os “Danos Colaterais” terão música ambiente. Num ano em que o cartaz tem metade dos nomes vindos de fora. Num alinhamento que inclui duas (ou três) estreias absolutas em terras lusitanas, entre 14 concertos ecléticos com muito rock, algum roll e muita vibe. E em que aparentemente o S. Pedro vai dar tréguas aos festivaleiros. Serão mais dois dias de boa onda, junto de pessoas que se sabem comportar, mesmo depois de já terem visitado várias vezes as barraquinhas dos líquidos com espuma. Ou a feirinha organizada pelo Coletivo SALITRE. O BASQUEIRAL é diferente, recusa o mainstream de forma assumida e mantém-se suficientemente alternativo para atrair um público esclarecido e que gosta de se deixar surpreender. A organização merece a nossa presença e apoio. O esforço que colocam em tudo só é ultrapassado pelo carinho e pela bondade. E pela criatividade e resiliência. Em pequenos detalhes, o evento dá dez a zero a iniciativas bem maiores e com orçamentos bem mais recheados…
Encontramo-nos por lá?!…

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Fotos: Direitos Reservados
Galerias: António Dias
Texto: JAIME Valente

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