Basquetebol: Ainda não foi desta que se dobrou o “CABo das Tormentas”

O momento de forma é negativo, os resultados não ajudam à moral. No entanto, quando pensávamos que a Ovarense Basquetebol não podia ficar mais afetada, eis que o que acontece dentro de campo nos prova precisamente o contrário.

No último jogo do ano civil de 2020, em desafio em atraso da 7ª. jornada da Liga Placard, a equipa orientada por Nuno Manarte até parecia estar ao ritmo de cruzeiro para um regresso às vitórias moralizador, na Arena de Ovar, contra o CAB Madeira… mas os insulares tinham mesmo outros planos.

Apesar de ter vencido nos parciais dos primeiros 3 períodos, apesar de ter beneficiado de uma vantagem de 20 pontos e ter partido para o último quarto a ganhar por 18, apesar do CAB Madeira se ter apresentado na Arena de Ovar condicionado nas suas escolhas e alinhando durante os 40 minutos com apenas 6 jogadores, apesar de tudo o que parecia indicar que a Ovarense ia vencer, tal não aconteceu.

Os últimos 10 minutos de jogo pareceram tirados de um filme com um final cliché ao sabor de uma reviravolta épica num encontro praticamente perdido. Mas não, não era Hollywood: tudo aconteceu em Ovar, na vida real.

A perder por 70-52 no arranque do último período, a equipa do CAB aproveitou um parcial de 9-0 a seu favor nos instantes iniciais para intranquilizar – de forma avassaladora – uma equipa da Ovarense refém de bons resultados. A qualidade exibida pelos vareiros até então eclipsou-se por completo, a equipa perdeu a clarividência na hora de atacar e permitiu que o forte jogo interior dos madeirenses sobressaísse em uníssono com a capacidade dos seus atiradores da linha de três.

O resultado foi uma bola de neve de pontos em acumulação, primeiro numa aproximação vertiginosa ao que eram os números da Ovarense e, em menos de 8 minutos, num igualar do resultado em 80 igual.

Muito mérito para os comandados de João Silva, principalmente para o lituano Robertas Grabauskas (que se evidenciou debaixo do cesto com o seu fulgor físico) e também para o capitão Diogo Gameiro (o motor da equipa na construção e o homem dos triplos nos momentos decisivos). Ainda assim, diga-se de passagem, também algum demérito da equipa da Ovarense… e nem tudo se explica apenas com falta de confiança para fechar a vitória.

Uma equipa que joga bem durante meia hora e dispõe de uma vantagem confortável de 18 pontos no último período não pode perder a compostura só porque o seu adversário sobe o nível de jogo e deixa-a a pensar num passado recente nada positivo.

A verdade é que a Ovarense teve uma estratégia infeliz quando menos se esperava. Mesmo com os seus descontos de tempo utilizados, o conjunto alvinegro defendeu muito mal o jogo do CAB, dando aso à vantagem física que o adversário tinha debaixo do cesto e, incrivelmente, não impedindo que o espaço aparecesse para os seus atiradores, que conquistaram 6 triplos em 7 tentativas num curto espaço de tempo.

Um parcial devastador de 15-35 fechou as contas da partida num inglório 85-87. Brock Gardner ainda esteve perto de evitar a derrota, a 0,5 segundos do fim, com um lançamento desesperado na última jogada do encontro. A bola esteve a milímetros de entrar e permitir 3 pontos que viravam novamente as contas a favor dos alvinegros. Não estava destinado.

Pelo que fez em campo, Brock Gardner merecia a apoteose na buzina final. O norte-americano voltou a ser o melhor em campo para a Ovarense, contabilizando 17 pontos, 9 ressaltos, uma assistência e uma entrega incrível a todos os momentos da partida. Isaac Johson, Kendall Jacks, Pedro Bastos e Cristóvão Cordeiro também obtiveram bons números, compensando o marasmo exibicional do qual Trey Moses continua sem sair – o camisola 24 terminou mesmo o jogo sem um único ponto conquistado!

Entre o deve e o haver, os melhores números da partida são, ainda assim, para os destaques individuais do CAB. Diogo Gameiro fez um duplo-duplo, com 21 pontos, 13 assistências e 8 ressaltos. Já Grabauskas conquistou 20 pontos, 6 ressaltos e 4 assistências.

Fiquem com as declarações dos técnicos no final da partida, recolhidas pelo repórter no local, Pedro Silva:

Com 5 derrotas consecutivas, a Ovarense mantém o registo de apenas 3 triunfos na Liga Placard, agora em 11 jogos disputados. O calendário próximo poderá, no entanto, agudizar ainda mais esta crise. Para o campeonato seguem-se confrontos contra Sporting, Vitória SC e Oliveirense, todos fora. Pelo meio um compromisso a contar para os oitavos de final da Taça de Portugal, também fora, no Pavilhão João Rocha, contra o Sporting.

Os adeptos da Ovarense pedem trabalho e, muitos deles, começam a pedir o despedimento de Nuno Manarte. A direção da Ovarense também não se livra das críticas, bem como alguns dos jogadores do plantel principal.

O momento é delicado. Ficaremos para ver o que trazem os ares de 2021.

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Fotos: Direitos Reservados
Texto: Pedro Silva
Áudio: Jaime Valente
Reportagem: Pedro Silva e Rafael Correia