Brian Blaker passou pelo Ovar em Jazz com a sua energia melódica
Escrito por AVfm em 24/04/2025
Ouvimos Brian Blaker e a primeira coisa em que reparamos será, porventura, uma energia incrível; um groove delicioso, pontuado por ostinatos interessantíssimos e artisticamente fecundos e; escusado será dizer, a base ideal para qualquer tema musical que se preze. Especialmente Jazz!
Depois disso, vemos aquilo que eu considero uma das qualidades mais distintivas de Brian Blaker: o seu melodismo nato.

Eu diria que é algo que distingue alguns compositores geniais, até… Pyotr Illyich Tchaikovsky, por exemplo, um dos mais compositores da vaga musical russa do séc. XX, autor de algumas das melodias mais reconhecíveis e famosas de toda a história (Abertura-Fantasia Romeu e Julieta, anyone?), tinha essa espécie de dom nato, eu diria. Não é uma ciência exata, claro, mas sim uma proficiência incrível para uma textura ou condução melódica de um elevadíssimo poder de destaque e expressão, que exige uma sensibilidade acrescida para uma construção estrutural que, de tão simples e imponente, é muito fácil de ser deixada numa posição frágil, ou pelo menos delicada.
E, no entanto, as melodias de Blaker são sonantes e cativantes (características que normalmente se perseguem uma à outra neste tipo de textura), o que se torna ainda mais genial dado que elas manipulam o tempo e a métrica da divisão de compasso de uma forma interessantíssima e fresca. Para mim é, definitivamente, esta ousadia no aspeto rítmico que torna o seu melodismo diferente, sem lhe tirar o poder expressivo e carismático de que elas precisam, o que, convenhamos, é um feito notável. De facto, ficamos com melodias poderosas, mas também ousadas, especiais, mais livres e menos “quadradas”, por assim dizer. Há algo melhor do que esta ousadia?

Falemos, então, também do ritmo que torna estas peças tão interessantes. O que me fascina é um certo uso da prolongação (que, de facto, é quase um derivado das técnicas contrapontísticas do Renascimento… o que pode ser tão interessante como assustador) de certas células rítmicas que resulta numa espécie de “jogo” com as acentuações naturais do compasso, que acabam por trazer um gosto diferente e que, enquanto especial, continua a ser natural ao ouvido. Isto é, de facto, algo que eu tenho muita tendência a fazer nas minhas composições, e fiquei feliz de não ser a única!

Ainda em relação ao ritmo, e um pouco ao groove também, temos que falar da fantástica escolha de Pedro Santos, dos Clã, para a guitarra baixo neste concerto. Foi algo muito bem pensado, porque contribuiu em muito para o sabor a fusion na linguagem jazz de Brian; sendo que, já naturalmente, o saxofonista deriva influências do funk americano, muito provavelmente devido ao seu passado musical neste ramo, e em particular na cena de Philadelphia; o que é um facto é que o sabor mais rockeiro que o baixista veio trazer ao som do quarteto foi, de facto, muito bem conseguido e deu à música uma energia e poder bastante especiais.
A nível de ritmo e de groove, para além da conceção estrutural em termos de camadas, os ostinatos mais rock que lhe deram um carisma tão grande, em tudo esta fusão foi muito bem conseguida e tanto interessante, como deliciosa de ouvir.
Sem dúvida, uma sonoridade refrescante, e, para além disso, muito bem construída – o que, muito sinceramente, ainda a tornou mais interessante. E, mais do que uma fusão de estilos que funciona bem e é curiosa, foi uma fusão de elementos que se revelou maravilhosamente harmoniosa e cheia de vida, o que só fez “Integral Parts” manifestar-se como um trabalho ainda mais bem-sucedido.

Um artista e um grupo pelos quais ficarei ansiosa por ver os próximos passos! E espero que voltem à nossa cidade para no-los virem apresentar, neste ambiente que é tão ameno, mas vivo 🙂
Ouve a entrevista realizada com o grupo:

Entrevista a Brian Blaker