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“Dune: Part Two – A sua Influência no (meu) Cinema”

Escrito por em 21/05/2024

Nunca fui grande fã de filmes de ficção científica. No momento em que vejo Goodfellas pela primeira vez a minha grande paixão pelo cinema vira-se para os “Mob Movies”. Não foi por acaso, sempre tive interesse em ver filmes sobre a máfia quando era mais novo, mas o meu tio Rui aconselhava-me (e bem) “Vê o Godfather lá para os 16”. Talvez isso esclareça vários aspetos da minha infância… Percebo hoje que o meu tio não confiava muito na minha intelectualidade. Seria um ultraje ver um filme tão prestigiado pela crítica, tão adorado pelos que realmente percebem de cinema. Tinha nesse momento a oportunidade de começar a transição de filmes de animação para algo mais complexo e que me fizesse ver as coisas, o mundo e o cinema de uma perspetiva mais madura e adulta.

Sempre tive um gosto peculiar e de difícil apreço. Já quando era novo e ia ao VideoClube de Espinho com o meu pai (quando ainda existiam, bons tempos) repetia os filmes, não estava disposto a ver novos e prendia-me muito ao que já sabia que ia gostar. Até hoje sou assim e não sei porquê. Foi durante a transição que há pouco falava que decidi abrir horizontes.

Star Wars dizia-me algo, despertava um certo interesse pelo facto de ser conhecido, uma saga de que todos falam e é influente no cinema. Star Wars era algo de fácil acesso para mim pela razão que já mencionei, todos pareciam gostar, e a verdade é que…  Até hoje nunca acabei de ver o primeiro Star Wars. É injusto (e incorreto) colocar a qualidade de um filme de ficção científica tão consagrado e inovador. Nunca colocarei a qualidade de Star Wars em causa, mas (como se diria, por exemplo, numa conversa de café e não num texto de teor profissional como é o caso) não é bem a minha cena. Sempre gostei muito de filmes de história, factos reais, pessoas, acontecimentos que tiveram um impacto no mundo moderno, que torne perspetivas ainda mais abrangentes, que faça com que ainda mais perspetivas surjam, até porque o cinema representa isso para mim, abrir horizontes, perspectivas e ideias…

Lembro-me de ver Dune – Part One no cinema (com esse tal tio que duvidava da minha capacidade intelectual) e ficar entediado. Nessa altura, em 2018, estava no início do meu processo de transição. Foi nesse ano que vi Bohemian Rhapsody, um filme marcante para os anos que seguiriam da minha vida, depois de o ver comecei a interessar-me cada vez mais por cultura do fim do século XX, e Green Book, um filme que muito faz pensar e representa a forma como a sociedade americana funcionava nos 60´s.

Dune não teve, de todo, o impacto do filme dos Queen. Foi um filme que vi como mais um Sci-Fi da treta, com muita qualidade de produção, mas escasso em história. Em suma, Dune foi um filme que me passou ao lado. Agora, em 2024, com uma visão muito diferente da qual assumia em 2018, senti que era necessária uma preparação para o que muitos consideravam um grande filme. A visualização do primeiro, dias antes da experiência no cinema, não foi tão necessária quanto previa, mas foi importante para perceber que Dune é, de facto, um filme interessante.

A história do segundo filme faz lembrar as histórias dos conquistadores, Paul Atreides é uma personagem que sofre aquela transição tão clássica do cinema, tem intenções de fazer o bem, acaba do lado do mal. Vemos isso em vários filmes, não só de ficção científica, mas de todos os géneros, como é o caso, por exemplo, de Godfather, quando Michael Corleone toma a decisão de se juntar à família. Dune 2 não é só um filme. Mais do que isso, é uma história, que está a ser contada de forma indireta, uma história de amor, guerra e família. A transição que falava há pouco deu-se por terminada ao acabar de ver Dune 2. Senti finalmente que entendia o cinema, consigo ver as coisas de outra perspetiva. No fim da sessão trocamos opiniões e perspectivas. É incrível como um filme pode fazer pensar tanto…

Nos últimos anos a minha perspetiva do cinema foi mudando. Deixei de ver a sétima arte como uma mediadora de filmes que usam temas e figuras fáceis para vender bilhetes. Deixei de ver o cinema como algo que perdeu o rumo, e percebi ultimamente que ainda se fazem bons filmes. Prendia-me muito à ideia que me passavam de que os filmes antigos é que são bons. E, de facto, são. Mas, ao contrário do que eu pensava há 5 anos atrás, o cinema ainda não perdeu a sua força por completo. Há filmes bons, que valem a pena, como é o caso de Oppenheimer, Poor Things ou Dune. The Dark Knight, de Cristopher Nolan, e Joker, de Todd Philips, são casos de grandes filmes e grandes sucessos já na década de 2010 e estão nesse lote dos super-heróis. São filmes que deixam uma esperança de alguns que ainda acreditam no cinema moderno, na importância do cinema para a cultura, mas sobretudo o espírito crítico que o cinema cria para a sociedade.

Nem todos conseguem fazer um bom filme. Quem consegue tem o mérito.
Denis Villeneuve tem o mérito.

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Fotos: Direitos Reservados
Texto: Francisco Fidalgo

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