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Ganhar ao Sporting e ganhar bem: uma anormal normalidade

Escrito por em 13/04/2021

Considerar “normal” uma vitória do Esmoriz GC sobre o Sporting CP pode parecer uma hipérbole mas, no desporto, há figuras de estilo que se desmontam em campo. Para quem viu o primeiro jogo da Final da Taça da Federação (in loco ou pela transmissão da AVfm), o triunfo de 3-1 (24-26; 25-19; 25-21; 25-20) dos esmorizenses sobre os leões surgiu com muita naturalidade. Tudo isto, não colocando em questão a inegável qualidade do Sporting, mas sobretudo salientando a exibição personalizada e quase perfeita por parte do Esmoriz que, de certo modo, banalizou um dos melhores conjuntos de Portugal.

O Sporting de Gerson Amorim apareceu na Barrinha sem poder contar com os contributos de José Rojas e Gil Meireles, tal como tinha acontecido contra o SC Espinho no acesso a este playoff. No entanto, com uma equipa com o orçamento elevado e recheada de soluções no plantel, via-se em Renan Purificação e em João Fidalgo substitutos mais do que à altura dos acontecimentos. Mais ainda quando, nos últimos meses, verifica-se um Sporting mais consistente no seu nível em campo e a melhorar bastante nalgumas debilidades que lhe foram reconhecidas no arranque da temporada.

O azar dos verde e brancos foi que, na Barrinha, encontraram um Esmoriz GC completamente motivado. A formação de Bruno Lima, chegada à Final da Taça da Federação depois de despachar em duas vitórias limpas o VC Viana, vê neste troféu uma rampa de lançamento para o regresso aos grandes palcos do voleibol nacional. Com olhos bem mais fixos no troféu, a qualidade dos da casa veio ao de cima e, mesmo sendo os outsiders, mostraram mais uma vez que têm argumentos para se baterem contra qualquer rival do campeonato e repetiram a façanha de Novembro passado, quando também tinham vencido o Sporting, em Esmoriz, por 3-2.

A lição apareceu bem estudada desde o primeiro segundo: explorar ao máximo a intermitência da linha de receção do Sporting foi o grande mote da partida do Esmoriz. E se, numa primeira fase, o Sporting ainda foi respondendo graças a uma toada menos agressiva de serviço por parte dos da casa, à medida que o jogo foi avançando, a expressão “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” começou a ganhar sentido prático.

O Sporting foi perdendo a capacidade de virar sideouts com receções perfeitas. Com o seu jogo mais afastado da rede, a vantagem física dos leões tornou-se menos relevante no encontro e os seus centrais, normalmente armas ofensivas apontadas aos pontos, deixaram de poder participar a seu bel-prazer na manobra de organização atacante.

Podia esperar-se que Paulo Víctor, o oposto que tem sido um grande destaque ao longo do campeonato, tornar-se-ia a grande solução. No entanto, PV esteve muitos furos abaixo daquilo que pode e sabe fazer, registando apenas 4 pontos nos 3 sets em que participou até sair lesionado (levou violentamente com uma bolada na face) e ceder lugar a André Saliba.

Com apenas Robinson Dvoranen (13 pontos, eficácia de remate de 65%) a contribuir com números interessantes nos ataques conquistados, o Sporting teria de se alicerçar nos erros forçados e não forçados por parte do Esmoriz. Mas, se pensou nessa escapatória, do lado contrário encontrou uma das piores equipas do campeonato para ter de confiar nesses dados.

A verdade é que o Esmoriz é das formações mais consistentes do panorama nacional. Para além de ter uma linha de receção extremamente sólida, o que lhe permite dividir a jogada com qualidade de chegar ao ponto desde a sua nascença, é uma formação especialista na defesa baixa. Mesmo quando os leões apareciam com remates decisivos, o trabalho defensivo do Esmoriz permitia contra-ataques sólidos ou, pelo menos, não deixava que o Sporting finalizasse jogadas sem ter de insistir uma e outra vez, o que enervou os visitantes e lhes roubou confiança ao longo da contenda.

A desvantagem física do Esmoriz, que poderia ser uma pecha, acabou por ser contornada pela coragem e espírito aberto dos da casa. Sem qualquer medo de partirem para a ofensiva com as armas de que dispunham, é verdade que os blocos dos leões foram surgindo (9 no total do encontro), mas foram muito mais as bolas que feriram a equipa do Sporting do que aquelas que foram conquistadas na reação dos leões.

Com José Pedro Pinto a destacar-se, mais uma vez, como o ponta em campo mais concretizador (23 pontos e 62% de eficácia), também os centrais da casa apareceram com um contributo ofensivo muito interessante e acima do tem sido habitual contra equipas teoricamente mais fortes e mais capacitadas fisicamente. José Pedro Andrade (92% de eficácia) e Everton Almeida (80% de eficácia) foram responsáveis por 19 pontos ao longo do encontro, a somar aos 6 blocos (dos 8 da equipa) que também festejaram.

O Esmoriz esteve a correr atrás durante o primeiro parcial – e até nesse dispôs de um set point aos 24-23. Mesmo tendo perdido o primeiro set, a equipa não baixou os braços e apenas no terceiro não mostrou autoridade desde o primeiro momento, tendo passado para a dianteira do marcador após os 15 pontos. Nos restantes, foi sempre dominando e fechou as contas com muita superioridade, mesmo quando Gerson Amorim mexia com o seu xadrez e lançava jogadores como Miguel Maia ou Hélio Sanches.

A uma vitória de alcançar o título, o Esmoriz GC parte para Lisboa com a missão de conquistar a história no Pavilhão João Rocha, casa do Sporting. O jogo 2 da final da Taça da Federação está agendado para o próximo sábado, a partir das 15h00. Em caso de um terceiro desafio, esses jogar-se-á no dia seguinte, domingo, também às 15h00. Não há jogos iguais e, por isso, espera-se uma tarefa hercúlea para os homens da Cidade Voleibol.

Esmoriz GC x Sporting CP
Taça FPV – Final – Jogo 1
Árbitros: Ricardo Ferreira, Hélder Laínho
Resultado final: 3-0
Parciais: 25-20 | 25-16 | 25-18

Esmoriz GC: Bruno Santiago (1), Rafa Santos (10), Everton Almeida (12), José Pedro Pinto (23), Roberto Reis © (11), José Pedro Andrade (13), Hugo Ribeiro (L)
Jogaram ainda: Bruno Dias, Pedro Henrique (2), João Francisco
Não utilizados: Gonçalo Sousa (L), Luís Aguiar, Afonso Reis, Fred Baptista
Treinadores: Bruno Lima, Tiago Rachão

Sporting CP: Bruno Canhoto (2), Renan Purificação (10), Victor Hugo (5), Paulo Víctor (5), Robinson Dvoranen (16), Eder Levi (10), João Fidalgo (L)
Jogaram ainda: Hélio Sanches (6), Miguel Maia ©, André Saliba (9)
Não utilizado: José Vinha, Hugo Vinha, André Sousa, Miguel Maia Sá (L)
Treinadores: Gerson Amorim, João Diogo Santos

Melhor recebedor: Hugo Ribeiro (21 – 76% positivas)
Recebedor mais eficaz: Roberto Reis (15 – 60% perfeitas)
Melhor atacante: José Pedro Pinto (23/37)
Atacante mais eficaz: José Pedro Andrade (11/12 – 92%)
Mais Ases: Robinson Dvoranen (2/18)
Mais Blocos: Everton Almeida (4)
MVP Rádio AVfm: Everton Almeida


Fotos: CB Fotos
Texto: Pedro Silva
Reportagem: Pedro Silva e Helder Ferreira

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