Os «rojões» na rota do mata-mata

«Os rojões, os gordinhos, estão nos quartos-de-final.»

Foi de semblante jovial que, aos microfones da AVfm, Tiago Leite comentou a passagem da sua Ovarense à fase a eliminar da Prova Final do SABSEG. Não é para menos: é que do lado da bancada (tinha sido expulso na jornada passada), o técnico alvinegro viu a sua equipa apresentar-se de forma personalizada no sempre difícil Municipal de Albergaria, contra um Alba que só precisava de empatar para carimbar o segundo lugar do Grupo C.

A missão da Ovarense era só uma: vencer. E foi essa máxima que ficou patente desde o primeiro momento de jogo desta “final” de nervos, mas onde os vareiros souberam estar bem em todos os (diferentes) capítulos da contenda. Entraram completamente endiabrados e marcaram de forma madrugadora, controlaram a etapa inicial e até ampliaram a sua vantagem e, por fim, já na segunda parte, tiveram alma e coração para sofrer e segurar o resultado que lhes convinha.

Os “gordinhos” da Ovarense, os mesmos que apareceram na Prova Final longe da melhor forma física, os que perderam na primeira ronda e que pareciam ver a passagem por um canudo. Esses mesmos são os que agora, ganhando por 2-0 ao Alba, seguem com as 8 melhores equipas da Distrital de Aveiro e continuam a transportar fim-de-semana após fim-de-semana, orgulhosamente, o concelho de Ovar para a festa do futebol.

Esta não é uma campanha perfeita, a Ovarense não é uma equipa imbatível só porque está, neste momento, na mó de cima. Mas não há ninguém a negar que é, sem dúvida, uma campanha em crescendo por parte dos vareiros. A Ovarense não foi derrotada pelo líder do grupo, Estarreja – esteve até a escassos segundos de triunfar no Marques da Silva – e saiu por cima no confronto direto perante os rivais Bustelo e Alba, amealhando 7 pontos nos 4 jogos que fez contra ambos.

Dados que abrem o apetite para os quartos-de-final, mostrando que a Ovarense poderá encarar de frente contra a fava que chegará do Grupo C. Ainda para mais quando, com Tiago Leite, a Ovarense nunca perdeu um jogo a eliminar em Aveiro (destaque para a campanha na Taça, na época passada) e mesmo na Taça de Portugal, já esta temporada, caiu aos pés de um Oriental Dragon com argumentos de Liga 3, mas só num suado prolongamento.

Ainda assim, aconteça o que acontecer, a equipa sabe que não joga em casa e não detém o favoritismo para chegar às meias-finais. Aliás, ao passar para o mata-mata, quebra já uma tendência que quase tem ditado lei nesta Prova Final – a de que os clubes com melhor coeficiente registado até Novembro confirmaram as suas qualificações. Algo que, não deixando de ser fantástico para a Ovarense, a coloca dentro de um aquário cheio de tubarões sedentos de atingir os Nacionais, com orçamentos exorbitantes e com uma aposta de subida mais vincada que aquela que se fez no Marques da Silva.

Mérito, trabalho, raça. Há vários adjetivos que ajudam a descrever o trajeto vareiro. Para já, festejamos a passagem e depois do jogo dos quartos revemos a matéria para confirmar ou acrescentar mais algum chavão.

Novo: um velho conhecido

E o homem golo foi… Fábio Novo. Novo de nome, velho conhecido das balizas.

Embora ainda não se tivesse estreado a marcar na Prova Final, o melhor marcador da Ovarense na presente temporada ostentava estatuto de arma secreta para Tiago Leite nas últimas semanas, quase sempre lançado do banco. Em Albergaria foi mesmo um dos escolhidos para onze e a opção foi um autêntico bullseye.

Foram apenas precisos 5 minutos para ver o camisola 25 fazer o que sabe tão bem, mostrando frieza num lance de finalização à boca da baliza, na sequência de um cruzamento de régua e esquadro de Tiago Barroqueiro. Mas o festim não ficaria por aí.

O felino Fábio Novo teria ainda mais um motivo para receber os calduços dos seus companheiros, este já no fecho de uma primeira parte para mais tarde recordar e aproveitando o desnorte do Alba numa saída de bola (no mínimo) caricata. Ainda perdoou em posição privilegiada numa primeira fase – com mérito para a parada do guardião Marco Pais – mas foi a tempo de compensar na recarga, atingindo o bis e aproximando a Ovarense do sonho.

Pena que, na segunda parte, não tenha estado em jogo. A verdade é que Fábio Novo acabaria substituído devido a uma lesão, pouco depois do minuto 50. No entanto, pelo que fez até ao infortúnio que sofreu, materializando em efeitos práticos a excelente exibição do conjunto da Ovarense, merece a menção honrosa, provavelmente apenas dividindo esse mérito com um colega de posição e tarefas bem diferentes.

O Super Renato

Super’s é o que não falta por aí – desde o gelado, passando pelo canalizador de jardineiras e terminando nos quadradinhos de qualquer banda desenhada. No desporto, nomeadamente nas balizas, há alguns Super’s sem capa. Para a Ovarense, esse Super é Renato Lopes.

Se há alguém que, literalmente, segurou a vantagem de dois golos da Ovarense ao longo da etapa complementar, esse alguém tem o nome de Renato Lopes. O guarda-redes tem apresentado uma forma invejável ao longo da Prova Final e mais uma vez valeu pontos com as paradas que fez.

Mesmo que sem o um caudal de trabalho semelhante ao que teve contra o Estarreja na jornada anterior, o homem das luvas de Ovar ainda registou um par de excelentes defesas, não deixou o Alba reduzir cedo na segunda parte e foi adiando até ao apito final um golo de um adversário atrevido e que só precisava de um clique para realmente acreditar que era possível chegar ao empate que lhe servia.

Com um Super Renato na baliza e com uma coesão defensiva que começa no primeiro homem do ataque, a exibição sem bola da Ovarense fez lembrar a muralha de entrega e esforço que ficava patente nos melhores momentos da época passada. A equipa ainda tem um registo de golos sofridos algo desfavorável, mas a máquina defensiva atual tem feito por atenuar esses números menos abonatórios.

Coletivo forte, jogo quase perfeito

Não era fácil passar com distinção na “Missão Alba”, mas a Ovarense ficou perto da perfeição graças ao seu coletivo ao longo de todo o jogo. Foram 11 atletas nos titulares e 4 a entrar do banco e todos perfeitamente cientes da tarefa e a executá-la com uma abnegação que deixa qualquer adepto alvinegro de olhos a brilhar.

Um jogo de fases bem diferentes, com momentos em que a Ovarense teve de procurar o resultado e outros em que teve de o saber guardar. O plano traçado foi dando frutos em todas as vertentes, as próprias peripécias do jogo correram sempre a favor da Ovarense… mas tudo isto tem muito que se lhe diga e não é por acaso que, nesta situação, se aplica perfeitamente a expressão que diz que “a sorte dá muito trabalho”.

Talvez a única pecha no jogo da Ovarense tenha sido mesmo a incapacidade, no segundo tempo, de partir mais vezes em jogadas de contragolpe. Jogar contra o sentido do vento não terá ajudado, algumas faltas duvidosas assinaladas pelo juiz e que quebraram contra-ataques também não. O fresco Samuel foi, por isso mesmo, o único a conseguir ameaçar, já na parte final, embora quase sempre com rasgos individuais.

No somatório dos 90 minutos, embora o Alba até justificasse pelo menos um golo, a vitória da Ovarense é mais do que merecida. Para além disso, a passagem numa “final” jogada com esta intensidade só salienta ainda mais o equilíbrio patente no Grupo C desde o primeiro momento, abrilhantando o sucesso que a Ovarense logrou conquistar.

Troca de galhardetes entre líderes de balneário

Foi com análises francas e com troca de elogios à mistura que Tiago Leite e Paulo Matos analisaram o jogo entre Alba e Ovarense, no fecho da 6ª. jornada do Grupo C da Prova Final. A AVfm esteve à conversa com os técnicos intervenientes e convida-o agora a revisitar as declarações:

SC Alba x AD Ovarense
Campeonato SABSEG – Prova Final – Grupo C – 6ª Jornada
Resultado final: 0-2
Resultado ao intervalo: 0-2
Golos: Fábio Novo (2)
MVP Rádio AVfm: Fábio Novo

SC Alba: Marco Pais, Fábio Xavier, Henrique Gonçalves, Diogo Lobo, Ludovico, Leandro Almeida, Ed, Mathieu, Igor, Gonçalo Resende, Tiago Silva
Jogaram ainda: Guilherme Salvador, Simão, Fredy
Não utilizados: Tiago, Alexandre Sarabando, Quintino
Treinador: Paulo Matos

AD Ovarense: Renato Lopes, Márcio Reis, Nuno Damas, Gustavo Magalhães, Roger, Bruno Costa, JP, Tiago Barroqueiro, Rolas, Fábio Novo, Jonathan Oliveira
Jogaram ainda: Diogo Farias, Bruninho, Marmelo, Samuel da Silva
Não utilizados: Bruno Costa, Fábio Pereira, Paulinho
Treinador: Tiago Leite

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Fotos: Direitos Reservados
Texto: Pedro Silva
Áudio: Jaime Valente
Reportagem: Pedro Silva e Joel Magina