Ovar em Jazz’24: 2ª. noite marcada pelas harmonias distintas, e por vezes até psicadélicas, da L.U.M.E.
Escrito por AVfm em 29/04/2024
No passado dia 18 de Abril, tivemos a oportunidade de assistir a mais um concerto único e eclético trazido até nós pela programação do Ovar em Jazz. Trata-se do concerto dos L.U.M.E. – Lisbon Underground Music Ensemble, com composição e direção de Marco Barroso.
E, de entre um batalhão de instrumentos de metal, o primeiro elemento a fascinar no meio de música energética e vibrante foi a bateria – incrivelmente bem conseguida, esta trazia coesão e sustento a toda a música, tornando-a um todo muito mais claro e bem conseguido.
Destaca-se, definitivamente, por este carisma de elo de ligação, mas também por ser responsável pela criação de contrastes muito interessantes dentro de cada obra, permitindo uma estrutura musical muito mais diversificada e, portanto, passível de ser mais rica e dinâmica, sem se tornar demasiada informação e pouco padronizada pela presença de refrão – algo que, se me permitem, foi muito bem pensado.
Foi também interessante o facto de o piano não ter sido deixado de parte como mero instrumento de acompanhamento, mas sim usado com textura própria e fazendo uso do amplo espólio das suas capacidades.
A exploração de timbres diferentes foi evidente ao longo de todo o concerto, com uma musicalidade cativante que fazia lembrar música filarmónica e muito animada, e interessante por ter harmonias bastante distintas, por vezes até bastante psicadélicas, mas que continuava a despoletar emoções de forma intensa e transparente, imediata. Para além disso, com este ensemble, a magnitude que é passível de ser atingida é extremamente positiva, especialmente tenho em conta o fulgor e dinamismo das peças em si, tão bem acentuado pelas proporções do grupo.
A orquestração era, efetivamente, de uma mestria admirável, particularmente na maneira como lidava com os vários sopros. O ritmo era, também, bastante bem trabalhado, pois conseguiu evitar de forma efetiva a confusão de misturar tantos elementos, e tão diferentes, atingindo um som com um sabor contemporâneo, mas palatável, e não demasiado baralhado (sinceramente, chegaria a dizer mais bem combinado que um Debussy).
A maneira como a música, mesmo nos seus momentos mais estritamente jazzísticos, tem sempre um sabor fresco e único. Especialmente pelos seus detalhes mais conceptuais (um assunto que foi referido na entrevista a Marco Barroso que está disponível no fim do artigo), tudo isto ajuda a tornar a música muito mais programática e ligando maravilhosamente com os timbres instrumentais mais fora-da-caixa que iam sendo usados ao longo do concerto.
Os instrumentos são claramente levados ao limite, o que faz a música tornar-se denotadamente grandiosa e rica, realçando-se muito bem a perícia dos instrumentistas, que sabem responder tão bem a abordagens algo mais recônditas e técnicas fora do comum.
Por último, gostaria de ressalvar que este concerto serviu, sem dúvida, para demonstrar o quão variado e eclético o jazz pode ser, e a versatilidade do compositor é ampla e louvável, mostrando proficiência com os instrumentos com que trabalha, particularmente na composição dos seus solos.
Acima de tudo, e em jeito de conclusão, música contagiante, viva e cheia de batida – e, assim, um concerto de puras boas ondas e carisma!
Deixo a entrevista realizada com Marco Barroso, no âmbito do concerto do seu ensemble no Ovar em Jazz:
[give_form id=”81006″]