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Ovarense nos oitavos da Taça de Portugal… mas sem «pontinha» de facilidade

Escrito por em 09/01/2018

Suar no início do ano é resolução e promessa de Réveillon para muito boa gente. Para os mais empenhados, o trabalho de transpiração começa à primeira oportunidade que lhes surja. Ainda assim, no caso da equipa feminina da AD Ovarense, provavelmente o desejo passava por evitar esforços em demasia logo no primeiro jogo do ano. Algo que não aconteceu porque, no regresso à Taça de Portugal para disputar a 3ª eliminatória, a equipa de Paulo Campino teve de dar o litro para não perder pela primeira vez na presente temporada e ainda foi obrigada a horas extraordinárias.

O passaporte para os oitavos de final da prova raínha só foi mesmo carimbado depois de um prolongamento com 120 minutos de futebol de alta intensidade e 7 golos para amostra. A Ovarense esteve a perder por 3 vezes, mas conseguiu sempre ter alma para regressar à discussão e, superando o cansaço, ainda cumpriu o forcing de evitar os penáltis, chegando ao 4-3 final.

O responsável pelo esforço extra das vareiras esteve a escassos minutos do golpe de teatro no Marques da Silva, veio de Odivelas e tem nome: o CAC Pontinha. A formação lisboeta, como a ADO, também milita no Campeonato de Promoção. Mas, apesar de ser apenas 5ª na Série F, tinha um impecável registo de 5 golos marcados e nenhum sofrido na Taça de Portugal.

Assim, mesmo podendo assumir o favoritismo, não houve grande espaço a mudanças no onze escalado do lado da Ovarense. Capitaneadas pela «velhinha» Mariana Campino (16 anos), a equipa da casa atuou com Lara Sousa, Ninja, Jojó, Joana Pinho, a já referida Campino, Diana Gonçalves, Joana Gomes, Betinha, Beatriz Jordão, Rute Silva e Soares.

Destaque para o meio campo vareiro, que mostrou estar bem oleado e sempre capaz de jogar com diferentes abordagens. Por um lado, a zona central era povoada por uma Diana Gonçalves que tanto trancava atrás como aparecia, cheia de força física, em zonas de finalização. Por outro, havia o génio de Betinha, o jóquer de Paulo Campino em campo, numa posição entre as linhas da Pontinha e atuando como falsa médio/avançado. Joana Gomes, por sua vez, era o elo de ligação, sempre presente nas transições com bola e juntando os setores.

Foi por aqui que a Ovarense começou a dominar o jogo. A posse de bola de números expressivos desde cedo se fez sentir e rapidamente se verificou que a filosofia das visitantes iria passar pelo aproveitamento das transições rápidas e pela criatividade do trio ofensivo composto por Carla Fortes, Rita Silva e Eduarda Cruz.

No entanto, a história do jogo ditaria que a melhor jogadora em campo do lado da Pontinha estaria lá atrás, de luvas calçadas. E que luvas, provavelmente de aço: Sónia Castanheira foi gigante na baliza e defendeu ao nível das melhores. As intervenções foram tantas que os mais distraídos na bancada podiam até afirmar que este era um jogo entre a camisola 95 da Pontinha e 11 sedentas jogadoras da Ovarense.

Aos 5 minutos da partida, a bola até chegou a entrar na baliza das forasteiras, mas o golo de Rute Silva foi anulado pela juíza Cátia Leitão. A partir daí, a «macumba» instalou-se e foram precisos quase 40 minutos e muitos outros disparos para que a festa chegasse a Ovar.

Pelo meio, corria o minuto 15, a Pontinha até se adiantou no marcador com um contra-ataque digno dos livros. Carla Fortes avançou pela direita e, perante parca oposição, deu de bandeja a Eduarda Cruz que, em zona frontal, rematou rasteiro e para a malha esquerda de Lara Sousa.

A Ovarense tentou de todas as maneiras e feitios. Aos 19′, Diana Gonçalves experimentou à bomba de fora da área, mas o esférico só quis raspar no poste esquerdo. Depois, aos 32′, Jordão rematou à queima roupa mas permitiu uma enorme parada a Sónia Castanheira. Na sequência do lance, a bola ainda sobrou para a cabeça de Diana Gonçalves que só não marcou novamente graças à guardiã (ou milagreira) de serviço, com rins para salvar a sua equipa em cima da linha de golo.

A ADO até de uma grande penalidade beneficiou, aos 40 minutos. Betinha sofreu a falta e assumiu a responsabilidade, só que falhou no cara a cara com o empate. O intervalo estava perto e seria preciso compostura e inspiração para igualar o placard.

E foi precisamente por esse diapasão que Jordão alinhou dizendo «presente» com um golo cheio de classe. Assistida com um cruzamento pertinente de Rute Silva, a extremo teve no pé direito a inspiração para receber e picar por cima de Castanheira que já lhe fechava o ângulo. Um tento de se lhe tirar o chapéu!

Mas o jogo estava mesmo impróprio para cardíacos e o intervalo não chegaria sem nova grande penalidade. Desta feita, o castigo máximo beneficiou a equipa da Pontinha e, para não contrariar a tendência de Betinha, Eduarda Cruz também não foi capaz de faturar a partir dos 11 metros. Lara Sousa adivinhou o lado e mostrou que também tem créditos de guarda-redes que dá pontos.

A segunda parte não desiludiria e a Ovarense começou com o mesmo ímpeto de sempre. Logo à entrada, Betinha pegou na régua e esquadro, fez uma linha paralela e ofereceu a bola a Rute Silva. Isolada perante Castanheira, a goleadora vareira não conseguiu contornar a «muralha» do CAC Pontinha, «muralha» essa que lhe roubou o golo com a ponta da bota.

Seguiram-se novas ameaças alvinegras, aos 53′ e 56′. Primeiro foi Joana Gomes a atirar, permitindo a defesa a Sónia Castanheira. Depois foi outra vez Rute Silva, emendando um livre de Diana Gonçalves, mas alvejando a baliza por cima. Pedia-se eficácia.

Só não se esperava é que essa mesma eficácia chegasse do lado contrário. Já com Mariana Almeida em campo (rendeu Jojó), Rita Silva aproveitou uma falha da defensiva da Ovarense para marcar contra uma desamparada Lara Sousa. O golo surgiu após um livre lateral e uma má abordagem ao corte por parte das atletas vareiras.

A Ovarense mudou as peças do jogo e passou a atuar em 3x4x3. Mariana Campino subiu no terreno e começou a pisar a ofensiva da ala esquerda. O resultado foi um assalto constante à baliza da Pontinha e uma resposta ao golo sofrido que não se fez esperar quando, aos 67′, Joana Gomes rematou com intenção, mas à trave.

O empate não tardaria e, dois minutos depois, Mariana Campino iria levantar o estádio com um hino ao futebol. Num livre a 30 metros da baliza, a capitã encheu-se de fé e recebeu a recompensa. Sónia Castanheira ainda voou, mas nem ela teve asas para parar uma bola parada que Roberto Carlos não desdenharia. O golo da tarde e o primeiro de dois da Super Campino.

Só que a Ovarense ainda não tinha ordem para parar de correr atrás do prejuízo. A «chata» equipa da Pontinha viria novamente a destacar-se no marcador com um golo de Madalena Lopes, à boca da baliza. Muito mérito para a reação das visitantes que marcaram aos 72′, apenas 3 minutos volvidos após o golo da Ovarense.

Já com Sónia Silva e Sara Lopes em campo (saíram Ninja e Rute Silva), a Ovarense teve mesmo de esperar pelo minuto 88 para evitar a eliminação. O empate foi outra vez possível graças à incansável Mariana Campino, recarregando um livre direto apontado por Betinha e onde Castanheira – e a trave – ainda quase evitaram a igualdade.

Um grito de raiva de Mariana Campino nos festejos, uma renovada esperança para a Ovarense e um prolongamento que se avizinhava na eliminatória. Algo que só aconteceu porque, aos 90’+2, Soares viu-lhe ser tirado o pão da boca por uma defensora da Pontinha quando a bola já passeava por cima da linha de baliza.

Mas Soares ainda seria talismã e, apesar de ter sido obrigada a esperar pelo prolongamento, foi mesmo capaz de marcar o seu golo. Aos 93′, avançou com bola dominada pelo corredor central e, circundanda por 3 adversárias, rendilhou com pézinhos de lã e chutou para o canto onde dorme a coruja. Um golaço para mais tarde recordar!

A Ovarense congelou a posse e até esteve mais perto de ampliar a vantagem num remate à trave de Mariana Campino. Sem imprimir grande velocidade, a capacidade física da ADO era bastante superior e as ausências forçadas na convocatória da equipa da Pontinha finalmente fizeram-se notar.

Já não havia espaço para outra reviravolta e a Ovarense guardaria mesmo a passagem aos oitavos da Taça de Portugal. O apito final deu lugar a um Marques da Silva rendido a este grande jogo e aplaudindo as guerreiras que pisaram o relvado.

Pedro Silva foi o repórter da AVfm no local. Ouça as entrevistas aos técnicos:

  • Declarações AD Ovarense:

 

  • Declarações CAC Pontinha:

 

Não se podia pedir melhor jogo para abrir o ano em Ovar. A Ovarense sofreu muito mas mantém o registo invicto em 2017/18. Em particular, na Taça de Portugal, a prestação das alvinegras começa a dar que falar.

A ADO é a primeira equipa a avançar para a próxima ronda e fica à espera do sorteio para conhecer a sua sorte. Poderá estar cada vez mais próxima a presença de uma equipa da Liga Allianz em Ovar, um vislumbre daquilo que se espera que seja o próximo ano de uma Ovarense primodivisionária.

Veja a fotogaleria do jogo:

 

 


Fotos: António Silva
Texto: Pedro Silva
Áudio: Jaime Valente

 


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