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Mi-Fá-Dó-Sol | 23 Nov 2023

Carlos Reis e Dino Marques 23/11/2023

 

 

 

Emissão: 23 de Novembro 2023

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

 

Destaque: O Fado

 

Com a chegada da televisão – e da Rádio Televisão Portuguesa em 1957 -, a divulgação do fado tornar-se-ia ainda mais exponencial. Às vozes, associar-se-iam os rostos com recriações em estúdio de ambientes tipicamente de espetáculos de fado e com programas relativos ao género musical. Estava em plenos “anos de ouro”, com o surgimento, de igual modo, do concurso anual da Grande Noite de Fado, ainda hoje celebrado no Coliseu dos Recreios, não deixando de zelar pela longevidade das tradições do fado.
Com condições de gravação discográfica e de realização de digressões reunidas, o fado era cada vez algo mais institucionalizado, desdobrando-se numa autêntica rede de casas de fado, que dispunham de elencos residentes. O próprio regime aproveitou a franca popularidade deste género musical para, a partir do seu Secretariado Nacional de Informação, Cultura e Turismo, da Inspeção Geral dos Espetáculos e da Emissora Nacional, colocar o fado a seu lado. O mesmo fez quando Amália Rodrigues conheceu a repercussão internacional que a celebrizou um pouco por todo o mundo.
Isto porque era a voz a verdadeira força motriz do fado, que eleva os repertórios e as evocações populares feitas.
A poesia popular era frequentemente adaptada e os seus cancioneiros interpretados em prol das temáticas do amor, da sorte, do destino e, tanto quanto possível, de causas sociais, camufladas nos seus esquemas rítmicos e estruturais e no engenho das estrofes escritas. A riqueza do ritmo e dos versos anteviam, desde logo, uma mistura entre a cultura popular e a cultura erudita, herança dos grandes poetas portugueses. O anonimato desses compositores foi-se esfumando com o aparecimento de nomes consumados da poesia popular, como Henrique Rego ou João Linhares Barbosa.
Porém, Amália também ajudaria a colocar a poesia mais erudita e intelectual na vida do fado, com a chancela do editor e compositor lusofrancês Alain Oulmain. Assim, seriam popularizados fados da autoria de David Mourão-Ferreira (“Barco Negro”, “Sombra” ou “Maria Lisboa”), José Régio (“Fado Português”), Alexandre O’Neill (“Gaivota”) ou Leonel Duarte Neves.
Amália potenciava, assim, a sua fama internacional, algo que não seria possível sem a vaga anterior na década de 1930, em especial em torno de África e do Brasil. Porém, é inseparável a superação da barreira linguística para com o exterior que Amália conseguiu realizar e que, com isso, resgatou o seu protagonismo no panorama do fado e da própria cultura nacional.
Protagonismo também vinha arrecadando a guitarra portuguesa, totalmente artesanal, e que se consolidava como o grande acompanhamento da voz no fado. Desde o mestre Álvaro da Silveira e de João Pedro Grácio, dois nomes preponderantes na construção e refinação deste tipo de instrumentos, o palco foi dos seus intérpretes, onde a família Paredes (Gonçalo, o filho Artur e o neto Carlos) foram mestres e senhores com base em Coimbra, dando o mote para a fundação do fado Coimbrão; mas também José Fontes Rocha, do Porto, Álvaro Martins dos Santos, também ele do Norte, e Fernando Alvim, um dos grandes parceiros de Carlos Paredes. No âmago da formação, estava o professor Martinho de Assunção, violista e compositor, e os membros do Conjunto Guitarras de Raul Nery, com Fontes Rocha, Júlio Gomes e Joel Pina.
Os intérpretes trajavam de negro, que cantam de noite com a alma e procuram apelar às profundezas da alma coletiva nacional. Ressuscitam os seus sofrimentos, invocam o sentimento da saudade e deambulam entre os bens e os males do coração, sem deixar esquecer os cenários de miséria e de degradação emocional, que a cidade, com as suas alas sombrias e sinuosas, acentua ainda mais.
É a trepidação das cordas e a amplitude do comprimento da voz que ajudam a combater essa toada abúlica e triste, buscando a elevação do espírito e da alma. São nuances que remontam às suas origens, a um século XIX profundamente romântico, onde se enaltecia um subtil espírito de esperança perante a apatia de um povo e a agonia vivida no seu dia-a-dia, com condições precárias e penosas.
No entanto, e de Coimbra, nasceu o mencionado fado Coimbrão, com raízes académicas e trovadorescas. Os estudantes que iam para lá estudar levavam as suas guitarras e, envergando o traje académico, nas noites rigorosas da cidade, cantavam nos seus lugares míticos, em especial em frente à Sé Velha, no seu Largo. Desses cantares, nasceram as serenatas, com as tais raízes trovadorescas, em que o amante procura, através da canção, conquistar a dama, que, à janela, assiste a este galanteio.


Playlist:
Katia Guerreiro – Fado Dos Olhos
Maria Teresa de Noronha – Fado Menor e Maior
Carlos Ramos – Saudade
Fernando Farinha – Eterna amizade
Júlio Peres – A mais linda mulher
Maria Da Fé – Poema bendito
Vicente Da Câmara – Moleira dos longos olhos
António Mourão – Penas tem quem tem amores
Ana Moura – Guarda-me a Vida na Mão
João Braga – Outra Lisboa
Rodrigo – Foi de verde que partiste
Júlia Silva – Amor de mel
António Campos – Perfil da tua Imagem
Alcindo De Carvalho – Velho fadista (C)
Alfredo Marceneiro – O pajem

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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

Mi-Fá-Dó-Sol

Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

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