Tiago Marques: da carreira de miragem à mira das balizas
Escrito por AVfm em 25/11/2017
O futebol, como todos os desportos, junta um manancial de fatores que o tornam imprevisível. Os artistas veem-no como uma sinfonia refinada; os mestres encaram-no diariamente com a sua ciência complexa; e, da bancada, o público saliva com cada 90 minutos disputados à flor da relva. Mas, como em tudo na vida, no futebol também não corre tudo bem.
Quando se está do lado de fora não apenas pela paixão de ver a bola rolar em campo, mas porque, para além disso, se está impedido de perseguir a mesma do lado de dentro, a história muda o seu figurino. Por vezes, as lesões superam a vontade e até os mais abonados têm de abdicar da sua paixão.
Na praia maior do concelho de Ovar, casa do CD Furadouro, mora um Tiago Marques que, por estes dias, é um jogador feliz da vida. O ponta de lança tem estado em foco no ataque dos vareiros, com 9 golos apontados na presente temporada. Mas estes são apenas os primeiros meses da nova vida do goleador que, até há bem pouco tempo, era uma carta fora do baralho no que ao desporto rei diz respeito.
Com carreira promissora na formação, Tiago Marques foi obrigado a largar a atividade graças a duas lesões graves no joelho e apenas 6 anos depois foi capaz de arriscar novamente e dar uma segunda oportunidade ao futebol. Algo que, segundo o próprio, «foi muito complicado.»
«Achei que era o fim. Tinha vontade de regressar mas os médicos e fisioterapeutas aconselhavam-me o contrário. Mas, este ano, decidi arriscar e abraçar o projeto do Furadouro. Felizmente está a correr tudo bem e não tive mais nenhum problema nos joelhos.»
Um regresso que tem sido afortunado e salpicado de alegrias. Deixando para trás anos e anos onde foi extremo, o agora homem mais adiantado do CDF tem ajudado a equipa a exibir-se a grande nível na Série A da 2ª Distrital de Aveiro. Acompanhado do técnico dos «verde e amarelos», Miguel Sousa, no «Passe de Letra» da Rádio AVfm, Tiago Marques até já vai sonhando com a subida de divisão: «temos de ir jogo a jogo mas tenho muita confiança que, se continuarmos a trabalhar tão bem, vamos alcançar o que todos queremos e que é a subida de divisão.»
Um pouco mais cauteloso, Miguel Sousa aborda a temática da subida como uma «possibilidade» mas sem «colocar aí a fasquia devido a fatores que o Furadouro ainda não possui.» No entanto, não se coíbe de colher algum mérito pelo sucesso do novo matador do clube. Embora sublinhe que a vinda de Tiago Marques para o plantel se deva a uma aposta do seu adjunto (que já o conhecia), ficou rapidamente visível aos olhos de Sousa que este podia ser o homem golo do seu onze.
«Eu vi que as qualidades dele podiam ser muito úteis na posição de ponta de lança. É um jogador que sabe estar de costas, entre linhas, liga o jogo, recebe e sabe dar nos colegas e trabalha muito para a equipa. Na minha ideia, estas características são muito importantes.»
Uma adaptação onde ainda se notam progressos mas que rapidamente caiu nas boas graças até do, a princípio, relutante Tiago Marques: «sentia-me melhor a jogar a extremo mas o mister entendeu que era preferível assim e ainda bem porque está a dar resultado.»
«Eu gostava de ir para cima dos defesas e ter aquele espaço de explosão porque era muito rápido e bom tecnicamente. Por isso, no início, foi complicado jogar a ponta de lança e não me sentia muito bem. Mas agora estou diferente, prefiro jogar simples, com um ou dois toques, e os meus colegas que metam lá em cima para eu fazer golos.»
A receita parece estar a dar frutos. Em comparação com a temporada transata, o Furadouro não só aumentou em muito a qualidade do seu plantel como também tem tido um grupo mais comprometido com os objetivos do clube. Miguel Sousa é um treinador satisfeito com «nunca menos do que 20 jogadores por treino» e com «ideias cada vez mais assimiladas.»
«Neste momento somos uma equipa que sabe estar organizada dentro do campo e cada vez mais percebe todos os momentos de um jogo. Temos um bloco coeso e bem fechado. E temos uma qualidade do meio campo para a frente que nos proporciona um ataque mais organizado ou a perspetiva das transições.»
Segundo o técnico, o coletivo é a verdadeira estrela do clube e, só depois, surgem os atletas como Tiago Marques: «ele é um jogador importante e é claro que fico satisfeito quando alguma individualidade surge. Mas, acima de tudo, dou importância ao grupo.»
No mesmo diapasão, Marques realça que «sem os colegas e equipa técnica não estaria aqui» e aponta ao nível futebolístico e ao espírito do balneário: «somos um plantel grande, mas muito unido. Jogam onze mas sabemos que, se o mister meter lá outros onze, a qualidade mantém-se.»
Ainda assim, Tiago Marques tem mesmo sido a face mais visível deste Furadouro de 2017/18 e, sentindo-se «focado e sem pensar noutro clube», deixa escapar «um orgulho enorme por estar neste momento de forma.»
«Jogar futebol é algo que gosto de fazer… até a minha namorada é jogadora de futebol. O meu pai sempre quis que eu voltasse a jogar e agora está muito feliz, […] graças a Deus que tenho conseguido.»
Uma história de superação que não ficava mal em Hollywood e onde se impõe uma questão – qual o melhor golo desde o regresso? Questão à qual o homem do “pé quente” não se mostra muito seletivo: «O melhor… são todos!»
«Se for possível, queria marcar em todos os jogos, mas o meu objetivo é que o Furadouro ganhe. Mas se marcar e ganharmos, ótimo!»
A entrevista completa pode ser ouvida aqui:
Já que estamos a juntar o útil ao agradável, arriscamos e deixamos a sugestão: podem ser triunfos e golos gritados ao som dos relatos da AVfm?
Veja a fotogaleria do Tiago Marques no CD Furadouro: