Ovar em Jazz ’23: Festival arrancou com Umbral, de Nuno Trocado e Jorge Louraço Figueira
Escrito por AVfm em 27/04/2023
Logo na abertura do Ovar em Jazz, surpreendem-nos com um conceito algo inesperado – o de juntar música com monólogo teatral.
Foi esta a proposta de Nuno Trocado e Jorge Louraço Figueira no seu espetáculo “Umbral”, um concerto cuja música foi, desde o início, demarcadamente contemporânea – dotada de uma linguagem harmónica intrincada e de ritmos complicadíssimos, revela-se, ainda que tão densa, coesa e expressiva.
Cada vez a música se interliga mais com a voz e torna tudo muito mais profundo, e as palavras tornam-se importantes, para mim, menos pelo seu significado, e mais pela maneira como são proferidas.
A música encaixou-se especialmente no conceito do Jazz devido ao seu sabor a improvisação, possuindo, também, a determinação e sonoridade de obras imensamente ricas musicalmente, pela sua combinação das mais variadas cores, ainda que mantendo tudo fluido e aprazível.
Outra característica interessante foi que, por vezes, era usada a sonoplastia, o que acentuava ainda mais a história que ouvíamos por palavras no texto – ainda que o texto em si não seja propriamente a parte que eu apreciei mais, gostei do dramatismo que lhe foi acrescido pela música, pois o texto era tão introspetivo, detalhado, cru, que foi interessante ouvir a maneira como a música o elevava e tornava mais envolvente.
Cada vez mais se puxa ao aspeto jazz, com um baterista e contrabaixista pura e simplesmente extraordinários a segurar o groove ao longo do concerto, e o saxofonista e flautista a brilhar com passagens imensamente virtuosas e cheias de musicalidade.
Foi, também, um elemento muito especial o uso da eletrónica no concerto, porque, um pouco como a sonoplastia, fez realçar alguns elementos que eram referidos no texto ao longo do concerto, que reforçaram a ligação entre música e texto.
Em suma, adorei a música. É simplesmente fabuloso a maneira como algo tão díspar daquilo que é “tradicional” pode ser tão dinâmico e impactante, e foi maravilhoso ouvir música tão bem construída e expressiva – diria, até, que o estilo composicional de Nuno Trocado foi a minha parte preferida deste concerto.
Por isso, para mim, acabou por não ser tanto pelo conceito, mas mais pela música – achei-a mesmo original e foi interessante demonstrar uma faceta do jazz que não se identifica imediatamente como jazz, mas ainda assim, não só alude a este estilo como cria o seu próprio Mundo.
E, nessa perspetiva, sempre me fascina quando a Música cria mundos. E o teatro… bem… interpreta mundos.
Não admira que tenha sido uma interligação tão bem pensada.
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