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Ovar em Jazz’23: Bar do CAO recebeu o Math Trio, projeto de João Mortágua onde todos os instrumentos brilham

Escrito por em 28/04/2023

Isto não é maneira de se começar um artigo, mas eu tenho de começar por dizer que adorei.

O que João Mortágua e o seu projeto Math Trio trouxeram ao Ovar em Jazz foi uma vertente que, para mim, foi muito interessante – o conceito da música como uma organização algébrica.

Tenho que admitir, antes de assistir ao concerto estava meio confusa com o conceito – a verdade é que estava curiosa por saber porquê o nome de Math Trio (não tivesse eu perguntado exatamente isso ao ter a oportunidade de realizar uma entrevista com os artistas), e que me fazia alguma confusão a ideia de misturar matemática com a música.

E agora sim: para mim, o resultado foi estupendo. Aliás, uma das primeiras coisas que me fez lembrar foi um compositor e pianista jazz arménio que considero ser um dos melhores desafiadores do ritmo musical da História – Tigran Hamasyan.


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Isto porque algo que se destacou a partir do início foi a maneira como o conceito de tempo era incrivelmente dinâmico – não só pelo uso de ritmos extremamente intrincados e diversificados, mas também pelas transições refrescantes entre andamentos que rapidamente viravam o ambiente, tornando as peças muitíssimo apelativas e variadas.

Para além disso, uma das minhas características preferidas neste projeto foi a divisão de papéis de igual forma, quero eu dizer, tinham todos a mesma importância, nenhum se sobrepunha ao outro, havendo uma harmonia geral.

Apesar de o formato do trio ser algo semelhante àquilo que é costume entre ensembles de jazz, em que a bateria e contrabaixo mantêm o tempo e instrumentos como o saxofone e o trompete são solistas, acho que a ausência dessa “norma” e um muito maior equilíbrio entre instrumentos possibilitou uma maior musicalidade inerente às composições e tornou o estilo composicional de João Mortágua ainda mais interessante.

Outra coisa que achei fascinante foi a componente rítmica – as peças, devido a esta conexão com a matemática, exploravam muito o ritmo, e adorei especialmente o papel da bateria, pois senti que teve muito mais que fazer do que apenas “marcar o tempo”, e sim uma parte muito polivalente, e, para além disso, com muita musicalidade.

Achei mesmo que as partes da bateria estavam tão bem escritas que podiam, até, ser partes a solo, pela sua exploração incessante e singularidade.

As peças não eram só equilibradas em termos de instrumentos como estavam muito bem construídas, pois tudo conjugava na perfeição (e, sinceramente, acho que combinar todos estes ritmos de forma tão hábil é mesmo impressionante) – e não só pelo ritmo, mas também pela linguagem harmónica, pois se eu adoro uma linguagem harmónica que não se cinja à tonalidade, e se eu não senti isso ao longo de todo o concerto.

Para além dessa característica, tanto no saxofone como no contrabaixo, havia ainda uma espécie de “riffs” que se repetiam pelo contrabaixo, a solo. Era mesmo cativante a maneira como Diogo Dinis, o contrabaixista, “pavimentava” o caminho para o saxofone de João Mortágua, mas sem se pôr a si próprio em segundo plano ou deixar de ser musicalmente relevante.

Definitivamente que esta interligação tão bem feita concedeu um preenchimento e dinamismo à música que foram um ponto-chave em toda a musicalidade do concerto.

E pronto… resta-me dizer que achei o projeto exclusivo e genuíno, e é sempre uma enorme felicidade para mim descobrir o trabalho de artistas no nosso país que fazem música tão interessante, e com um estilo tão singular e irreverente.
E oxalá haja mais música lançada por este projeto, pois depois de ouvir este concerto acho que é uma colaboração que promete.

Deixo a entrevista realizada com João Mortágua e Diogo Dinis, no âmbito do concerto do Math Trio no Ovar em Jazz:

Confira ainda alguns instantâneos da atuação no Bar do Centro de Arte, pela lente de António Dias:

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Fotos: António Dias
Áudios: Jaime Valente
Texto: Mariana Rosas

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