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Ovar em Jazz’23: Maria Mendes uniu o Fado e o Jazz num concerto único no Centro de Arte de Ovar

Escrito por em 28/04/2023

Fado e jazz juntos – não será uma combinação que se ouve todos os dias, mas se há algo que Maria Mendes nos veio provar neste concerto, foi que esta merece a devida atenção.

Tudo isto foi demonstrado pela cantora no seu concerto no Centro de Arte de Ovar, no âmbito do festival Ovar em Jazz, que se centrou no seu novo disco, “Saudade, Colour of Love”.
Com este álbum, a artista criou uma excelsa fusão entre estes dois géneros – e, para mim, foi muitíssimo refrescante ouvir tal interligação.

Mantendo as qualidades de interpretação que a identificam como uma cantora jazz, como o seu caráter improvisado e uso do swing, com o uso do fado, a sua música ganha uma nova camada de expressividade – transformando, assim, vários exemplares de uma das maiores heranças musicais portuguesas em música recriada e autêntica, conseguindo respeitar o tradicional mas, ao mesmo tempo, levá-lo a novos lugares com esta nova abordagem em termos de linguagem musical.


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O concerto foi de deixar boquiaberto do início ao fim, quer pela incrível reinvenção dos temas interpretados, quer pela maravilhosa performance de Maria Mendes e de toda a orquestra, cuja presença foi absolutamente fulcral para todo o contexto do concerto e teve um papel decisivo nas canções que tocaram.

A voz de Maria Mendes revela-se sóbria. A cantora mantém-se fiel àquilo que é enquanto artista e enquanto cantora de jazz, mas brilha com paixão pela música que canta, adicionando o seu próprio estilo pessoal e improvisação, mas sem nunca deixar escapar o caráter melancólico, sofrido característico do fado.

Mas não termina por aí – tudo isto se complementa, ainda, com uma presença em palco arrebatadora, destacando-se sempre com a sua voz dinâmica, poderosa, sobremaneira brilhante e expressiva, a orquestra engrandecendo a sua voz em som, determinação, cor, dotando as músicas de uma sonoridade densa, de tal ordem permeante que tocaria qualquer um.

Aliás, há que falar, também, dos esplêndidos arranjos orquestrais que acompanharam as canções – todos os temas foram arranjados pela própria Maria Mendes e pelo produtor John Beasley, e é mesmo inesquecível a maneira como a música era tão imersiva, e, mais do que isso, como envolvia maravilhosamente a voz da cantora.

E, como não podia deixar de ser, Maria Mendes mostra-nos uma polivalência louvável, quer em técnica, quer em musicalidade – a cantora brindou o público com uma enorme quantidade de elementos diferentes na música, desde a improvisação ao skat, que fizeram maravilhas ao diversificar o repertório, tornando cada uma das canções única e especial no seu próprio direito.

Para mim, foi muito especial e comovente assistir a uma série de fados tão sofridos, tão emotivos, mas ainda assim desprendidos de tudo o que foi perpetuado ao longo dos tempos, tudo o que nunca ninguém ousou alterar. Ouvir tantos matizes novos, um ângulo completamente diferente daquilo que é a nossa herança e o nosso legado folclórico e musical enquanto país.

Perceber que algo tão enraizado na nossa cultura tem tanto potencial por onde crescer, por onde inovar, por onde se metamorfosear, para mim é uma sensação indescritível e única.
E acho que Maria Mendes merece uma enorme salva de palmas por um desafio tão bem cumprido.

Disponibilizo a entrevista realizada com Maria Mendes, no âmbito do seu concerto no CAO:

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Fotos: Direitos Reservados
Áudios: Jaime Valente
Texto: Mariana Rosas

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