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Mi-Fá-Dó-Sol | 02 Mai 2024

Carlos Reis e Dino Marques 02/05/2024

 

 

Emissão: 02 de Maio 2024

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

 

Destaque: Fado

 

Numa instância final e, simultaneamente, bastante primária, é financiador o público que investe parte do seu capital num bilhete, num disco, que, deste modo, financia o fadista e o seu fado. Por fim, não esqueçamos o próprio fadista que produz, grava o seu álbum e financia todo o processo até existir o retorno. Alguns dos artistas criaram a sua agência e o seu estúdio. São parte maioritária de todo o processo criativo e conceção do álbum, da produção e organização dos espetáculos. Investem o seu capital, esperando o retorno. Assim, novos fundos e círculos de financiamento surgem também no fado. Cada vez mais longe dos subsídios, apoios ou canais estatais. Cada vez mais autóctones e independentes.
A globalização e o “globalismo” impulsionam e usufruem de novos meios de comunicação, de governação e sociabilização. «A globalização afetará os processos governativos e será afetada pelos mesmos (…) o globalismo é um estado mundial no qual este se envolve em redes de interdependência estabelecidas a distâncias multicontinentais.» O fado não é exceção e dispõe hoje de novos meios de divulgação e promoção. Comecemos pelo meio quotidianamente mais mediático e usado, a internet. De facto, «Para mares bravios da Internet, nada melhor do que uma boa nau portuguesa.» e o fado dispõe desta maresia.
Na internet são vários os fóruns, os portais, os websites, os blogs que fornecem mais elementos sobre o fado: história, fadistas, atualidades, concertos, entre outros. Hoje impõe-se que os fadistas, as editoras, as próprias salas de espetáculos disponham online toda a informação necessária para que o público se informe e opte. Espaços como o Myspace, o Facebook, e outras redes sociais são meios de rápida e gratuita promoção e difusão de eventos, notícias. Aproximam o fadista e o fado do cidadão comum e tornam a curiosidade num ponto a favor. Exemplo do uso desta potencialidade foi o concerto que Camané deu através do Facebook. Um concerto online, gratuito que inovou pela audácia.
Para lá dos meios eletrónicos, hoje assiste-se ao fenómeno do fado em festivais de música, em festivais de Verão, em festas/ arraiais académicos. Outrora seriam espaços onde o fado seria impensável, mas constatamos a presença de fadistas como Mariza, Ana Moura, Camané, entre outros, nos recintos dos festivais que decorrem de norte a sul do país e ao serviço de Portugal sobretudo no verão. É um novo espaço de divulgação, um novo reflexo da mediatização e da vincada proliferação do fado.
Internacionalização do “nosso” Fado «Instrumentalizando-se a partir da segunda metade do século XX, foi instrumento de divulgação (…) e de difusão mais geral da cultura portuguesa.». Desde cedo o fado apresentou uma raiz internacional. Não só pela sua(s) tese(s) de origem, que o transporta(m) do Brasil, do mundo lusófono ou das heranças árabes até nós, mas também pelo seu percurso pós-edificação na cultura da urbe lisboeta.
Mais uma vez, é impossível não mencionar Amália Rodrigues como a grande e principal causa desta internacionalização. Antes da “diva”, outras fadistas levavam o fado a alguns pontos do globo, mas dispersos. Numa derradeira escala mundial, Amália internacionalizou o fado sem quaisquer precedentes. «A minha carreira internacional deve-se a uma circunstância muito simples. Uns franceses vieram a Portugal fazer um filme e queriam uma pessoa que cantasse (1954). (…) e escolheram-me a mim. (…) Foi assim que começou a minha carreira internacional. O filme deu-me o pontapé de saída para França e a França deu-me o pontapé de saída para o mundo.». Amália espalhou o nome de Portugal do México até Londres, do Japão até Nova York. Esteve em África, esteve intensamente na Europa, na Ásia, na América Latina, na América do Norte…Amália, Amália, Amália!
«E de Paris à América Latina o seu nome continua a ser o mais conhecido e identificável com Portugal e com o Fado.» Era, e continua, uma embaixadora, uma divulgadora de Portugal no Mundo, solitária e sem par à sua escala. «Um fenómeno que não tem paralelo na história do fado e da cultura portuguesa. Amália está no elenco das três melhores vozes do século (juntamente com Maria Callas e Frank Sinatra) mas cantava apenas com uma viola e uma guitarra portuguesa. É raro! Amália impulsionou o fado ao nível planetário.»
Hoje, o circuito construído pela fadista mantém-se aberto e recetivo a tantos outros fadistas que enchem salas por todo o mundo: Mísia, Cristina Branco, Camané, Katia Guerreiro, Mafalda Arnauth, Carminho, Mariza, os clássicos Carlos do Carmo e João Braga entre tantos outros. É difícil tentar mapear os seus concertos, as suas tournées. Não há limites, não há fronteiras para o fado.
E pensar que há alguns anos atrás o fado não era editado em Portugal, nem acolhido pelo público. Casos como Mísia e Paulo de Bragança tiveram de sair do país para receberam o reconhecimento necessário para prosseguirem com as suas carreiras e vidas. A fadista Mariza teve de editar o seu primeiro álbum na Holanda, por falta de interesse das editoras portuguesas no mesmo. É sintomática a necessidade de ir para fora, para depois alcançar um status, um “lugar ao sol” no panorama português.
Distantes desta realidade, as novas vozes conseguem com maior facilidade editoras, agências que as promovam e espaço na viagem internacional que se impõe a todos. É um fenómeno cada vez mais rápido e cada vez menos regulado por padrões de qualidade. A seleção natural acaba por se ocupar da sobrevivência dos melhores! A internacionalização do fado permitiu a Portugal uma reposição cultural no Mundo. Quando se fala de fado, fala-se de Portugal. Quando se oferece fado a ouvidos estrangeiros, ensina-se a língua portuguesa, conta-se a história do nosso país a desconhecidos da alma lusa, pintam-se as paisagens de Portugal. «Eu chego a um sítio qualquer e as pessoas identificam-me com a minha terra, identificam-me com Portugal. Tenho uma verdade tão grande, tenho uma autenticidade tão grande e sou portuguesa.»
«É pelo fado que Portugal é conhecido em muitos sítios e é pelo fado que muitas pessoas que conheço aprenderam português.» Pela sua história, e pela História de Portugal, das raízes e costumes que transporta em si; pela sua transversalidade e presença natural nas distintas áreas culturais; pela sua regeneração e manutenção ontem, hoje e amanhã; pela sua capacidade de internacionalização desde sempre; pela sua difusão no mundo, pela sua presença diária em qualquer sala, teatro, cinema, festival em qualquer ponto do globo o fado merece destaque na equação de uma política cultural externa. «Devemos usar o que designamos de poder inteligente, o role de instrumentos à nossa disposição – diplomático, económico, militar, político, legal e cultural – escolhendo o devido instrumento, ou o conjunto de instrumentos, para cada situação. (…) O poeta Terence, da Roma antiga, declarava que “a cada diligência o caminho do homem sábio é tentar em primeiro lugar.
Portanto um “poder suave”, mas “inteligente” no seu uso e recurso e sempre que necessário aliado a outros instrumentos, a outros meios. «O fado vende e é exportável.». O fado é música e tem poder. O fado é genuíno e, ainda por cima, é português. Até onde chega o nosso Fado não é fácil, nem difícil, perceber por onde anda o fado. De uma forma direta, o fado corre o mundo, todo o mundo. No entanto, há países mais recetivos ou que tiveram e têm maior impacto na divulgação e nesta crescente interiorização do fado.

 


Playlist:
Manuel Calixto – Cigarros Que Fumei
Manuel Delindro – Teu amor é fado
Berta Cardoso – Canção das Descobertas
Linda Leonardo – Pressentimentos
João Ferreira Rosa – Embuçado
Maria Teresa de Noronha – Minhas Penas
Fernando Farinha – Fado Helena
Filomena – Grito
António Pelarigo – Fado São Nicolau
Alzira Afonso – Corpo Sem Dono
Rodrigo – Ardinita
Manuel De Almeida – Tempos Que Já Lá Vão
Natercia Maria – Sardinheiras – Sardinheiras
João Braga – Prece
António Mourão – Pouco me importa
Manuel Granja – Sou Do Fado

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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

Mi-Fá-Dó-Sol

Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

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