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Mi-Fá-Dó-Sol | 04 Abr 2024

Carlos Reis e Dino Marques 04/04/2024

 

 

 

Emissão: 04 de Abril 2024

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

 

Destaque: O Fado

Nas telas recria-se o imaginário do fadista, alimentam-se os mitos, os costumes, os símbolos e os objetos que para muitos, supersticiosamente, não se desvinculam do Fado. Iniciam-se rituais e prolongam-se palcos do quotidiano. Numa breve análise da obra “O Fado” (1910), de José Malhoa, uma ou a mais representativa e identitária do universo fadista, observamos num ambiente escuro, um homem cantando profundamente, pela expressão do seu rosto, tocando a sua guitarra, entoando o que nos parece ser um fado. Não se ouve, mas vê-se, percebe-se, sente-se.
Num ambiente de taberna, temos vinho sobre a mesa, e uma mulher sem rosto, que fuma; um xaile negro nos seus ombros; e um outro cigarro na orelha do homem fadista. Os cabelos negros das duas personagens. Um vaso de manjerico que esboça a cidade de Lisboa, os seus ímpetos populares, mais bairristas. Vemos socas e botas; um candeeiro.
O imaginário do Fado a óleo, num traço cénico e realista. O Fado é o motivo da obra assim como toda a sociedade marginal, pobre, urbana que se apresenta associada a esta estranha forma de vida. Envolvida num escândalo absoluto e depois de uma tournée por Madrid, Paris, Londres, Buenos Aires, Rio de Janeiro a obra, tão controversa, só foi apresentada em Lisboa, em 1917. O fado já aqui se internacionalizava.
Tal como esta obra, uma das mais importantes e hoje residente no Museu do Fado, em Lisboa, muitas outras de distintos artistas preenchem o vínculo do fado na pintura e constroem a história plástica desta melodia: “Lusitânia no Bairro Latino”, de Júlio Pomar; “O café da Severa”, de Alberto de Souza; “Fado”, de Mário Eloy; entres outras dedicadas à cidade de Lisboa, às suas vivências e simbologias. Mais uma área transversal ao fado, mais um ponto de cultura que não ficou indiferente «à música mais genuína de Portugal, a música de Lisboa, com uma inquietude bem simples.»
Na escultura sublinhamos a estátua de Domingos Oliveira “Guitarra na Proa” (2000) uma homenagem à fadista e mulher Amália Rodrigues, à cidade e palco Lisboa e à harmonia e canção “Fado”. Da artista plástica, Joana Vasconcelos, surge o “Coração Independente” ou os corações independentes vermelho, preto e dourado (2006, 2005 e 2004 respetivamente) elaborados com talheres de plástico das respetivas cores. «A amarela é o ouro, a vermelha são os sentimentos, o amor e o sangue e o preto é a morte. Três peças que estão ligadas aos temas do fado. Não iria fazer um coração verde que não tem nada a ver com fado. As peças estão intimamente ligadas ao fado e ao modo de ver e entender o fado.»
«A existência de uma vasta imprensa dedicada ao Fado constitui um dos traços mais interessantes e reveladores da sua vida e evolução, tanto quanto uma indispensável fonte para o seu estudo.» Foram inúmeros os folhetins, os folhetos, os jornais escritos sobre e para o fado e seus apreciadores. Nestas publicações liam-se poemas, noticiavam-se factos do mundo fadista, divulgavam-se nomes e publicitavam-se concertos, partilhavam-se acontecimentos do país e do mundo. Constituíam-se, na época, verdadeiros canais de informação. Citamos alguns títulos: “O Fado” (1910) dirigido pelo poeta Carlos Harrington; “O Fadinho” (1910) dirigido por José Carlos Rates; entre outros. Todos estes diários e semanários conseguiram divulgar, reforçar, edificar o fado. Hoje conservam-se como documentos para o estudo e investigação do fado enquanto objeto cultural, historiográfico e museológico.
Voluntária, ou involuntariamente, esta imprensa é intensamente acompanhada pela fotografia (muitas vezes assumida sob a forma de cartazes) onde se doam rostos, expressões e caras ao fado. A fotografia é, aliás, uma das artes que tem uma elevada expressão neste universo. É certo que se apresenta como transversal a muitas outras referidas (cinema, teatro, literatura), mas a fotografia consegue, e por si só, transmitir muito daquilo que temos hoje por e para o fado. Guarda em si verdades, memórias. Deixa herança. E, se se publicitava o fado nos meios de comunicação, também o fado se aliava ao poder, ao objetivo da publicidade enquanto modo de vender um produto.
Pouco a pouco as cantadeiras do fado iam dando passos no percurso publicitário. «Uma das primeiras utilizações de uma vedeta para efeitos publicitários (…) o luminoso sorriso da fadista Maria Alice proclamando os benefícios do Ovomaltine.» Outros exemplos: a publicidade a um novo modelo recetor de telefonia; ou o clássico cartaz onde figura Amália Rodrigues e o sabonete Lux no qual podemos ler “Eu uso o sabonete Lux”, inserido na exposição sobre Amália no CCB, em 2009, aquando da invocação dos 10 anos sobre a sua morte.
Mais recentemente, uma campanha contra a violência doméstica, promovida pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) teve como rostos da campanha alguns fadistas; e a polémica campanha para a divulgação e venda do destino “Algarve” na qual participava a fadista Mariza. A campanha para a Madeira enquanto destino de férias, após as cheias de fevereiro de 2010, contou com a presença e colaboração de outros fadistas. A última campanha da Barclays, instituição financeira estrangeira, recorre ao Fado como banda sonora e linha guia do filme publicitário, fazendo uso da palavra “fado” para evidenciar o seu destino e o seu trajeto em solo português.
É certo que muitas vezes os fadistas participam, principalmente, como figuras públicas, mediáticas, mas também aqui não deixam de ser fadistas, artistas, intérpretes do fado. Trata-se de uma nova forma de utilizar o potencial do fado para promover campanhas e, vice-versa, criando-se novos instrumentos de divulgação e comunicação, novas evidências de sucesso e prospeção. E se já o sentimos, vimos e lemos então também já o ouvimos. Na rádio o percurso do fado tem sido ambíguo.
Num âmbito geral, a música portuguesa no seio das rádios portuguesas tem vindo a impor-se, a conseguir a percentagem obrigatória de emissão, sobretudo após a imposição de cotas para a passagem de música portuguesa nas emissoras radiofónicas, percentagem que tem vindo a ser atualizada ao longo das legislaturas. Aqui o fado não se apresenta como exceção, mas talvez como alvo de maior resistência.
Outrora, quando a telefonia se evidenciava face à televisão como instrumento de entretenimento, era aqui que se ouvia, que se partilhava o fado. A rádio promovia a divulgação do fado, permitindo aos demais artistas uma presença em festas tradicionais em todo o país e estrangeiro. Atualmente é raro ouvirmos fado na rádio. E porque será? Não constitui o fado uma grande fatia da música portuguesa que é ouvida e vendida? Então porque não roda nas faixas escolhidas?

 


Playlist:
Andreia Ribeiro – Oh Meu Amor Marinheiro
Andreia Ribeiro – Silêncio Deixem Ouvir as Guitarras
Sérgio Marques – Porque te Quero Tanto
Sérgio Marques – Nada me Dás
Júlia Silva – Quem vai ao fado
Júlia Silva – Amor de mel
Patricia Fernandes – Valsa dos Amantes
Patricia Fernandes – Dá Tempo ao Tempo
Edgar Lima – Pomba Branca
Edgar Lima – O Cauteleiro
António Cerqueira – Poder do Ciúme
Magina Pedro – Trova do Vento que Passa
Magina Pedro – Samaritana

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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

Mi-Fá-Dó-Sol

Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

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