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Mi-Fá-Dó-Sol | 07 Mar 2024

Carlos Reis e Dino Marques 07/03/2024

 

 

 

Emissão: 07 de Março 2024

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

 

Destaque: O Fado

O fado ocupou páginas de variados escritores como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Fialho de Almeida. Escritores e críticos sociais da Lisboa “provinciana”, da Lisboa inerte, inculta, distante das restantes capitais europeias. Minuciosamente descreveram os fadistas, o ambiente fadista, o fado.
Curiosamente, no final do século XIX, o fado torna-se meio de divulgação, de expressão ao serviço da reivindicação social dos operários e suas revoluções. Era meio de divulgar as injustiças, de pedir melhor sorte, melhores condições de vida. Sobe, também, aos primeiros palcos de revista. Inserido novamente numa rota negativa, o Fado viria a alcançar novos contornos apenas no século seguinte. Com o Estado Novo, e com o Decreto-Lei de 6 de maio de 1927, relativo à censura, o fado começa a ser “limpo”, a ser transformado pelo regime político. Deixa de ser considerado marginal, ou pelo menos, não tanto como outrora. Mas começa, simultaneamente, a tentativa de domesticar o fado, tentativa essa que mais tarde acaba por se revelar um insucesso.
Segue no advento da rádio e ocupa lugar nas telefonias de Portugal. Mantém-se no teatro de revista, com cartazes apelativos e públicos assíduos. Difunde-se para lá de Lisboa. «Desde meados do século XX a história do fado tem correspondido a um trajeto de consagração. Perspetivada nacional e internacionalmente, integrando gradualmente a programação das mais prestigiadas salas de espetáculo, o Fado conquistaria adeptos nos quatro cantos do mundo»
Inegável é o contributo de Amália Rodrigues, a âncora deste novo ciclo do fado. Levou o fado a todo o público; transportou os grandes poetas e a mais rica poesia na sua voz. Divulgou Portugal no Mundo. E, apesar de ter sido conotada com o regime Salazarista, não passava, afirmam as vozes mais próximas da realidade, de uma vítima da sua época, do sistema político em que estava inserida.
É sabido que Salazar recorreu a distintos instrumentos para a sua campanha, para a sua manipulação política. Recordemos os três F’s que construíam parte da sua ideologia: Futebol, Fátima e Fado. «Uma inquestionável instrumentalização (…) não deixa também de refletir as contradições e maus tratos por que passam as manifestações de cultura popular urbana.» O ditador percebera que se deveria aliar ao fado e não tanto condená-lo. «Fizeram dele a pretensa canção da alma portuguesa e o espelho de um regime.» Mas o Fado seria sempre o “circo” para o pobre? Um modo de entreter, de afastar os cidadãos ostracizados com base numa Estratégia Cultural ao serviço de Portugal regime fechado, controlador e perseguidor dos mais livres de pensamento e de espírito?
Pela sua natureza, o fado viria a encontrar um caminho livre. Depois da revolução de abril de 1974, o fado sofre das mais fortes demonstrações de hostilidade. Os tempos eram de instabilidade, de euforia, de ansiedade. O fado é tido como música do regime abatido. É retirado da televisão, é interrompida a Grande Noite do Fado (espetáculo maior do estilo musical). O objetivo é castigar o fado, bani-lo.
Apenas no final do decénio de 70 do século XX é recuperado o fôlego. O fado reaparece devido a fenómenos, que apesar de distintos, conseguiram em conjunto trazer-lhe vida: a edição do disco de Carlos do Carmo, “O Homem na cidade” com poemas de Ary dos Santos, um poeta, um homem publicamente de esquerda que tentou o aproximar do fado às elites políticas, às distintas plataformas sociais; e uma publicação académica, um estudo dirigido pelo Professor Joaquim Pais de Brito, que sentindo uma lacuna no estudo da cidade de Lisboa, e dos seus costumes, decide enviar várias equipas de investigadores para o terreno que acabaram por recolher informação e testemunhos sobre o fado.
O fado insurgia-se como componente, elemento-chave da sociedade lisboeta, da cultura portuguesa. É de sobressair, mais tarde, a entrada do fado no circuito da World Music, a música mais erudita, tradicional, genuína e exótica por ser diferente de tudo o resto. A música que revela as raízes dos povos, das culturas, dos indivíduos. O percurso foi longo e repleto de flutuações, mas algumas certezas ficaram.
Amália iluminou o fado e concedeu o alento para que novas vozes surgissem. «Deixara já de ser a cantadeira Amália Rodrigues para ser no imaginário e na iconografia, pura e simplesmente – o Fado!»
Com a sua morte, surgiu uma vaga, há tanto ansiada, de novos fadistas, novos guitarristas, novos compositores, novos modos de cantar e entoar o fado.
O fado entrou num novo ciclo. Há quem recuse falar em moda «porque a moda é uma coisa volátil.» mas encontra-se num bom ciclo, que por mero acaso ou por mérito próprio já se prolonga há alguns anos. «O fado encontra-se, assim, ao mesmo nível de produção, de apresentação que qualquer outro estilo de música.» E se ainda em 1994 no âmbito de Lisboa, Capital Europeia da Cultura e aquando da primeira exposição em que o fado se tornou um objeto, um tema museológico, existia uma névoa, um impasse face ao seu futuro, parece-nos possível consolidar hoje a perceção relativamente ao seu bom estado de saúde. Contudo, mantemo-nos céticos quanto à sua preservação e conservação, quanto à qualidade que se quer perene num produto genuíno.
O facto é que o fado, como qualquer outro elemento inserido num mundo globalizado, sofre alterações, sofre mutações. Transforma-se com as novas gerações, com as novas correntes. Neste sentido decorreu a iniciativa da candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da UNESCO. «Estas candidaturas a programas da UNESCO aquilo que preveem são planos de salvaguarda feitos com um horizonte mínimo de 10 anos e nos quais cada Estado membro, neste caso Portugal, se compromete a desenvolver um conjunto muito alargado de medidas de preservação daquele dito património.» Portanto aqui procura-se investigar, estimular, salvaguardar o que nos distingue enquanto cidadãos detentores de uma cultura particular.
Preservar o Fado, mas sem o tornar um objeto de museu, fechado entre quatro paredes. O fado auto regenera-se. Hoje, em pleno século XXI, o fado intensifica-se no circuito mundial da grande música, dos grandes festivais, das grandes salas, teatros; palcos europeus e transcontinentais. O fado continua a cantar Portugal, a difundir a língua portuguesa no mundo e acaba por concretizar a realização de política cultural portuguesa dentro e fora do país. São centenas dentro de Portugal e milhares no mundo, por ano. No fundo parece-nos legítimo questionar se será o fado uma música do mundo, uma World music? Ou antes uma música para o Mundo? Única e liberta? Resta sempre uma constatação: «O fado é, antes de mais, sentimento.» Está no Mundo e para o Mundo e, simultaneamente, constrói o seu próprio mundo…


Playlist:
Magina Pedro – Guitarras do Meu País
Magina Pedro – Tenho Barcos Tenho Remos
Edgar Lima – Pomba Branca
Edgar Lima – Igreja da Minha Infância
Patricia Fernandes – Meu Corpo
Patricia Fernandes – Fado Ricardo
Sérgio Marques – Não És Tu
Sérgio Marques – Quero Tanto Aos Olhos Teus
António Cerqueira – No Dia Em Que Te Encontrei
António Cerqueira – Da Saudade Que Ficou
Marla Amastor – Fado Modesto – Antigamente
Marla Amastor – Sou a Doida Desta Rua
Patricia Fernandes – Lisboa
Patricia Fernandes – Fado Ricardo

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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

Mi-Fá-Dó-Sol

Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

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