Mi-Fá-Dó-Sol | 11 Abr 2024
Carlos Reis e Dino Marques 11/04/2024
Emissão: 11 de Abril 2024
Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!
Destaque: Rádio Amália
O projeto Rádio Amália apresenta-se como singular. Uma rádio dedicada ao Fado, aos fadistas e aos amantes do fado. «e aqui em 98.70 FM a rádio “Antena vareira” também ela é uma porta sempre aberta onde o Fado mora.». Num mesmo sentido, pesquisando os “top’s” de venda, através dos dados cedidos pela Associação Fonográfica Portuguesa é concreto o impacto semanal da venda de discos e DVDs de fado em Portugal. Num exercício simples de soma, o panorama reflete a primazia de grandes fadistas nas vendas discográficas apuradas semanalmente e com estatísticas anuais.
Em 2010, foi Mariza que obteve o maior número de discos de platina, seguida de Ana Moura, Carlos do Carmo, Deolinda. No total de 54 discos de platina atribuídos em 2010, o fado arrecadou 31 unidades. Então porque não será espelhado tal na telefonia? Fica a questão, continua a desventura. Aqui, ali, entre nós….
Constatamos que o fado se encontra difundido por toda a nossa sociedade, a nossa cultura. Arriscaríamos mesmo em afirmar um pouco por toda a nossa vida. Da televisão à rádio, passando pelo cinema, teatro, literatura, fotografia. Expresso na escultura, pintura, expressão plástica e poesia. O fado está aqui, ali, entre nós. São quantificáveis os concertos, espetáculos e momentos de música e harmonia. São inúmeras e variadas as exposições sobre o fado, fadistas. O fado está nas ruas, na vida, nas casas de fado que se enchem nas noites quentes de Verão com imensos estrangeiros que têm curiosidade pelas trovas fadistas. «O ambiente é mágico e eles querem constatar. Querem descobrir mais e mais. Se a paixão já existia fora, aqui, numa casa de fados envolvem-se a um nível emocional muito elevado.
A cada dia o fado conquista novas melodias, novas expressões, novos artistas. Há fado na dança: o bailado coreografado pelo português Hugo Vieira na Alemanha “Fado=Destino–À procura da Alma Portuguesa” revela tal presença. «Um bailado com aspetos teatrais e música ao vivo, e sobretudo uma história sobre o fado como modo de estar na vida […para que o público] fique com uma ideia do que o fado representa para os portugueses, para a sua cultura.»;
O espetáculo apresentado pela Companhia de Dança Contemporânea de Sintra “Chama-me Fado”, no qual cinco bailarinas e cinco músicos dedicam a obra inteiramente ao fado; «o coletivo tem vindo gradualmente a dar espaço às raízes da cultura portuguesa». Há fado noutros estilos musicais como o jazz. «Só há dois tipos de música, a boa e a má e, neste caso, ambos os géneros (fado e jazz) são do melhor que há.» Há fado no meio académico como disciplina lecionada e investigada. Um novo interesse. Uma autonomização do género.
Há fado convertido em tema de férias: cruzeiro organizado e desenvolvido pelo Museu do Fado. Há fado em produtos tão gastronómicos e específicos como o vinho: Fado Vinho, da região do Alentejo. Há fado nas moedas, onde “O Fado” foi cunhado na série Europa da autoria do escultor Vítor Santos e comercializado pelo Banco de Portugal. «Um dos símbolos maiores da cultura portuguesa e conhecido em todo o mundo, o Fado já merecia uma moeda assim.(…) o Fado tem hoje novos valores que continuam a projetar o fado internacionalmente.» No passado ano, de 2011, até fado houve enquanto tema das marchas populares de Lisboa.
Um apontamento criado devido à candidatura do Fado a património imaterial da UNESCO, mas que simultaneamente glorificou o município lisboeta, os bairros e compositores das marchas e o próprio fado enquanto género musical e modo de vida.
Recentemente o fado preenche um dos grupos da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) onde se encontram os criadores de melodias, letras, métricas do fado. Hoje, aqui, ali, entre nós, há fado no país, no mundo, na vida!
Parece-nos impensável falar do fado e não apresentar a casa onde permanece desde 1998. O Museu do Fado foi idealizado e consagrado pela Câmara Municipal de Lisboa e surgiu, sobretudo, pela necessidade emergente de expor o fado enquanto objeto de estudo num espaço museológico – no seguimento da exposição “Fado: Vozes e Sombras”, em 1994 no Museu de Etnologia no âmbito da iniciativa “Lisboa como Capital Europeia da Cultura”.
Com morada em Alfama, bairro típico e intimamente ligado ao fado, o museu é hoje passagem obrigatória no roteiro de Lisboa. O espaço foi reformulado em 2008 e atingiu uma imagem atraente, uma coordenação e organização cronológica consistentes. «O Museu tem como missão a investigação, a preservação, a divulgação do fado. Trabalha em estreita articulação com a comunidade, com o universo fadista que foi um pressuposto central para a abertura deste museu.». O espólio do museu obtém-se sobretudo através de doações, empréstimos. É a casa dos fadistas e dos amantes do fado. «No entanto, aquilo que o museu pretende deixar como pista para o visitante é que o fado não está no museu, mas lá fora. Falamos de um património imaterial, fugaz, irrepetível, incorpóreo. (…) Falamos de um património que não se materializa num outro testemunho a não ser na nossa memória.»
O museu desenvolve vários projetos, apoia iniciativas; alia-se a eventos, a mostras e a ações de divulgação do fado. Organiza exposições temporárias, concertos e espetáculos no próprio espaço disponível. Neste espaço cultural, passam «uma média de 30 mil visitantes por ano (…) 65% são estrangeiros e os restantes são portugueses que vêm normalmente organizados ou em grupos – escolas, reformados, outras instituições.» Atualmente o museu pertence e é tutelado pela Câmara Municipal de Lisboa. É uma casa contadora de história, replicadora de momentos. É um centro de partilha de música e conhecimento. O Museu de Fado é, sem dúvida, um ponto de partida, de passagem e de encontro para os apreciadores de fado, para os curiosos e para os turistas que atraídos pela fama do género musical pretendem conhecer e saber algo mais sobre esta música portuguesa.
Porque o fado não só se vê, não só se toca, mas sobretudo sente-se. Passar no museu do fado é experienciar, é absorver o sentimento, a sensação de se cruzar com o seu habitat. O Fado ontem e o Fado hoje. Projeção do amanhã desde os tempos da Severa até aos nossos, o fado tem construído uma história, uma régua cronológica. A mítica figura da jovem que encantou as obras de Júlio Dantas e que legou à cidade de Lisboa a sua imagem, continua hoje a ser inspiração, marca e recriação.
Ciclos houve em que o Fado foi ostracizado, marginalizado para passar depois a instrumentalizado e mais tarde escutado, cantado, vivido e popularizado. Hoje, mais que outrora, o fado encontra um ciclo de renovação, de redescoberta e recuperação. O ciclo é, neste início de século XXI, positivo. Mas será apenas uma moda? Ou é muito mais que isso? Estará assegurada esta forma de viver, de cantar, de ser português? Talvez nunca tenha estado em risco. O futuro ditará, mas «se o fado já cá estava antes de nós o cantarmos, há-de ficar enquanto nós existirmos como portugueses.
Playlist:
Edgar Lima – Fado Altivo
Edgar Lima – Linha Bingo, Bingo Linha
Patricia Fernandes – Meu Corpo
Patricia Fernandes – Lisboa
Sérgio Marques – Quero Tanto Aos Olhos Teus
Sérgio Marques – Porque te Quero Tanto
Júlia Silva – Fado das queixas
Júlia Silva – Negro Xaile
António Cerqueira – Tu És o Motivo
António Cerqueira – Este Fado Que Te Dou
Andreia Ribeiro – Minha Mãe eu Canto a Noite
Andreia Ribeiro – Caso Arrumado
Magina Pedro – Trova do Vento que Passa
Magina Pedro – Traz Outro Amigo Também
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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados