Mi-Fá-Dó-Sol | 18 Abr 2024
Carlos Reis e Dino Marques 18/04/2024
Emissão: 18 de Abril 2024
Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!
Destaque: Fado
A partir do decénio de 1990 considera-se que um novo fado terá surgido e com ele novos fadistas. Este «novo fado é heterogéneo por excelência.». Cria uma diversidade, uma diferenciação perante outro fado, perante outros intérpretes. Há um revivalismo com pitadas de inovação, de recriação. A verdadeira reviravolta deu-se com Mariza, artista que recolocou o fado acompanhado de um mediatismo e exportação exacerbados. Com ela, e após a sua conquista, muitos nomes foram surgindo.
E se a resposta das editoras nos anos 80 do século XX seria que o fado não dava, não vendia, agora a resposta menciona que já existem demasiados artistas. Anos antes houve um Paulo Bragança e uma Mísia que se assumiram como personagens importantes para a quebra de preconceitos e clichés associados ao fado. Foram criadores de rutura e pouco compreendidos. No fundo, a novidade poucas vezes é imediatamente aceite e bem entendida. Tem de existir tempo e espaço para a aceitação, assimilação e admiração. No distanciamento face a tais factos e acontecimentos, hoje é possível atribuir-lhes um papel chave e um enaltecimento pelos seus atos e caminhos. Hoje, a escolha é possível e os estilos diferentes coabitam. São inúmeros os novos fadistas, os novos tons com que cantam a mesma harmonia. São profissionais, cada vez mais jovens.
«Enfim, foram os novos fadistas que surgiram e que deram alento ao fado e perspetivas de futuro. Viram que o fado não ia, nem podia acabar. O fado não vai acabar, não vai acabar! Não vai mesmo!» Novo público ao passearmos pelas ruas dos bairros mais emblemáticos de Lisboa é quase inconcebível, e muito improvável, que não tenhamos como banda sonora do nosso percurso o fado. São várias as casas de fado que se espalham pelos bairros típicos lisboetas. E de uma qualquer janela se ouvem versos; escutam-se fados e fadistas. Se consultarmos a agenda cultural de Lisboa, e até mesmo um pouco por todo o país, são inúmeros os concertos, os espetáculos, os momentos de fado que quotidianamente nos são indicados.
Hoje, ouvimos fado nas mais variadas salas, anfiteatros, pavilhões, estádios em todo o país. O fado está dentro e fora de portas. Chega ao público como raramente o conseguiu. A este novo fado apresenta-se um novo público. Regressámos às origens. Querem-se ambientes intimistas: quer-se ouvir o fado comercial, o fado tradicional, o fado vadio. Paralelamente lançamos o fado nas ruas, em concertos nos jardins, nos pátios descobertos com uma vontade de inovar, de criar pressupostos fantasiados. Há fado no castelo, no terreiro, no miradouro. E é unânime: os jovens fazem parte deste novo público, fazem parte deste suposto novo fado. «Desengane-se quem pensa que o fado é coisa de (ou para) “velhos”, gente “cota”.»
Novamente muito se deve às novas vozes que conseguiram atrair pares da sua geração. Cantando novas vivências, novos compositores; somando novos instrumentos, novas sonoridades; atribuindo novas posturas, novos elementos da vida a este novo fado; apresentando-se com distintos trajes, diferentes discursos. Hoje os jovens vivem o fado, dançam o fado. Novos projetos de música com influência e inspiração no fado semeiam novas batidas. Exemplos como “A Deolinda” colocam, em festas e discotecas, a música, a guitarra portuguesa, o imaginário tradicional lisboeta e português. Ponto assente para o facto destes grupos não serem fado, mas terem como pilar base e vincante a composição fadista. «Dentro da sua liberdade individual cada um pode levar o fado consigo desde que o respeite e seja verdadeiro. O fado deve andar ao sabor
Quando uma música não fala do seu tempo, mais cedo morre que sobrevive. Já Camões falava do fado e nós continuamos…». Hoje, este novo público é jovem, letrado e culto. Procura no fado a razão, as causas do seu sucesso no estrangeiro – se tem sucesso fora, se é editado fora, há que saber, ouvir este fado. Este público procura no fado as suas raízes. Num mundo cada vez mais globalizado continuam a ser estes pontos que nos distinguem dos demais. O fado coopera na individualização de uma identidade nos jovens e para os jovens. Afinca-lhes o que de português têm; define como português o que sentem. Não esquecemos que o anterior público, fiel, mantém-se. Mas, hoje há famílias, há jovens na plateia, nas cadeiras, no lado oposto ao palco. Há um novo público, mais atento, mais próximo do fado. «Por vezes vem a avó, o filho e o neto (…) esta terceira geração está mais desperta para o fado não só pela conjuntura familiar, mas também pela nova geração de fadistas que está a aparecer.»
Se calhar tudo isto ocorre apenas porque o fado está na moda, mas provavelmente é muito mais que isso! Num “mercado”, numa indústria com novas características, surge o apoio, o financiamento de novos e diferenciados indivíduos, pessoas singulares e/ou coletivas. Com um elevado foco de interesse, hoje o fado é uma boa aposta, uma forma de promoção e um meio de obter lucros, reconhecimento e agradar a parte considerável de uma população. Apoiam institucionalmente o fado entidades como o Ministério da Cultura, o Instituto Camões, a Câmara Municipal de Lisboa, o Museu do Fado entre outras instituições e organizações públicas – municipais, distritais, regionais – que patrocinam, que “oferecem” o fado aos cidadãos, aos ouvintes, por vezes a termo gratuito. São financiadores do fado muitos dos mecenas do país.
É comum existirem concertos de fado oferecidos, patrocinados, apoiados por instituições financeiras e bancárias, por empresas multinacionais que também assim praticam parte do seu branding; por marcas que se associam ao ritmo do fado para transmitirem os seus valores e exercerem o seu marketing, «todo o tipo de contacto que a empresa tem com qualquer pessoa fora do mundo de fora.»
Playlist:
Maria Teresa de Noronha – Caminhos sem fim
Alfredo Marceneiro – O pajem
Raúl Pereira – A Rua Que Subias
António Campos – Caso encerrado
Manuel Delindro – Alma dos ventos
Maria Da Fé – Janela da madrugada
Tony Gama – O Sol Anda Lá no Céu
Fernando Maurício – Feira Da Ladra
Tony de Matos – Vendaval
Manuel De Almeida – Barrete Verde
Maria do Céu Correia – Fado da Carta
Justino Nascimento – Trova de Pedro e Inês
Cidália Moreira – Quando contigo vivi
Carlos Zel – Lisboa mãe do fado
Maria Albertina – Fogem-me as Chinelas
Ricardo Ribeiro – Glosa da Saudade
Gabino Ferreira – A vida é uma tacada
Linda Leonardo – Cara a Cara
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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados