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Mi-Fá-Dó-Sol | 21 Mar 2024

Carlos Reis e Dino Marques 21/03/2024

 

 

 

Emissão: 21 de Março 2024

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

 

Destaque:  A Fadista

A fadista rodou várias longas metragens onde a sua voz e o seu fado tinham presença assídua. «Embora o notável talento dramático demonstrado por Amália Rodrigues no teatro, no cinema e na televisão nunca se tenha revelado em todas as suas potencialidades, até porque a cantora sempre se sobrepôs à atriz, a sua atividade nestes domínios é, apesar de tudo, muito mais vasta do que se poderia julgar, estendendo-se de Lisboa ao Rio de Janeiro de Paris ao México.»
São diversos os títulos que se espalharam pelas grandes salas portuguesas e que na tela exibiram também o fado. Fado, História d’Uma Cantadeira, de 1947, numa produção de Lisboa-Filme, juntou Amália Rodrigues, Vergílio Teixeira, Vasco Santana, António Silva e tantos outros grandes atores. A história do filme não se afasta nem da vida de Amália, nem da essência do fado: uma jovem cantadeira estreia-se num retiro, seguindo depois uma carreira no teatro e um destino de projeção internacional. Acaba por se afastar do seu grande amor. Quando este decide partir, a cantadeira regressa e com ela o amor dos dois.
Estávamos apenas na primeira metade do século XX e o fado já era motivo de produção artística numa das áreas que lhe seriam para sempre transversais: Capas Negras (Armando Miranda,1947), Fado (Perdigão Queiróga, 1947), História d’Uma Cantadeira (Perdigão Queiróga, 1947), Vendaval Maravilhoso (Leitão de Barros,1949), Tejo (Henri Verneuil,1954), Sangue Toureiro (Augusto Fraga, 1958), Fado Corrido, (Jorge Brum do Canto, 1964) e As Ilhas Encantadas (Carlos Villardebó, 1965), entre tantos outros filmes e documentários. Alguns destes filmes têm sido restaurados e apresentados com novas versões de elevada qualidade.
É o cinema português, clássico, que transporta em si o fado: o seu fado! Mais recentemente, já no século XXI, o fado esteve nas bilheteiras com o filme Fados (2007), de Carlos Saura. Um filme musical, que conta e canta as histórias, as influências, o percurso do fado. No seu elenco integra grandes fadistas, guitarristas, e vários cantores dos quatro cantos do Mundo, abordando a dimensão da World Music onde muitos incluem o fado.
Este filme, que surge no seguimento de outros filmes como Flamenco (1995) e Tango (1998) também do mesmo realizador, exibiu o fado a uma escala mundial. Um filme «que percorre o mundo com muito sucesso.» e que conta com a participação de diversos fadistas portugueses no casting. Em 2009, aquando dos dez anos sobre a morte de Amália, foi exibido o filme Amália – o Filme realizado por Carlos Coelho da Silva e que levou ao cinema mais de cem mil espectadores. Um filme que ficcionou a vida de Amália Rodrigues, o símbolo maior do fado em Portugal e no Mundo. Um dos filmes portugueses com maior bilheteira e que perdurou nos cinemas durante alguns meses – sendo depois convertido em série televisiva.
Para lá destas produções de maior impacto têm sido realizados outros filmes inspirados em alguns fadistas: Mísia, Aldina Duarte, Carlos Paredes com os Movimentos Perpétuos – Tributo a Carlos Paredes entre muitos outros, em produções nacionais e estrangeiras. A dificuldade maior, além do pouco e talvez mal direcionado investimento no cinema português, é a falta de estratégia, a falta de meios para atrair o público para o cinema português.
Não faz parte das nossas tradições culturais a produção cinematográfica, nem temos uma indústria que nos permita uma produção anual elevada de filmes nacionais. Contudo, a existência de filmes de alta qualidade na produção nacional é notória. Muitos outros projetos cinematográficos, nacionais e internacionais, com a temática e o objeto do fado, têm surgido nos últimos tempos.
A Portuguese Voyage, de Joshua Dylan é uma das várias longas-metragens que pronunciam os novos interesses e os novos interessados pelo fado no teatro, o fado propaga-se em inúmeras peças de teatro entre elas A Severa (1955) de Júlio Dantas no Teatro Monumental em Lisboa e inúmeras revistas.
Uma Estratégia Cultural ao serviço de Portugal conseguiu proporcionar «uma maior dignidade ao estilo e, simultaneamente, contribuir para a sua divulgação junto de camadas médias.». Em 2011 surgiu, ainda, o musical de Filipe La Féria, Fado: A História de um Povo que leva ao palco a história, o percurso do fado revelando-o como elemento chave e identificador de uma sociedade, de um povo num determinado período.
Na televisão o fado tem mantido um percurso irregular. Quase todas as semanas podemos presenciar a intervenção de um fadista num programa de entretenimento, exibindo o seu último trabalho, prestando tributo a alguém, ou simplesmente colaborando no papel de ocupação de tempos livres e entretenimento que a televisão presta a uma elevada faixa da população portuguesa.
Em 1994 foi transmitida uma série televisiva: Amália. Uma Estranha Forma de Vida, do realizador Bruno de Almeida. Durante vários anos foi exibida a Grande Noite do Fado, não fazendo agora parte da programação. Neste evento apresentavam-se novas vozes e elegia-se a nova revelação do Fado. Eram milhares de participantes que se deslocavam aos castings, eram dezenas de jovens e crianças que sonhavam com uma carreira promissora no fado. O evento mantém-se regular na cidade de Lisboa, mas sem transmissão televisiva neste momento.
O programa Fado Vadio (1978), exibe concertos, atuações antigas de alguns dos grandes nomes do fado. Recentemente foi inserida a entrega dos prémios Amália, uma cerimónia anual que distingue diversas áreas e personalidades afetas a diversas áreas dentro do universo fadista. Em 2010 foi transmitida a série Amália – o Filme, na RTP1, uma reprodução do filme exibido nas salas de cinema, mas aqui dividido em dois episódios.
São ainda alguns os documentários, entrevistas, reportagens que esporadicamente vão sendo realizados e divulgados ao público português. Alguns, inclusive, trabalhos estrangeiros que depois são transmitidos nas televisões nacionais. É o caso do documentário conduzido pela fadista Mariza, realizado por Simon Broughton e produzido por Carl Simons para a BBC em associação com a Rádio e Televisão Portuguesa. Muitos outros são quase anonimamente escoados na RTP2 sem grande divulgação prévia, apesar da iniciativa “Fado e Fados”. Exemplos são Fado Celeste, As cordas de Amália, entre outros quase perdidos.
Nesta nova linha de ação impulsionada pela candidatura do fado a Património Mundial, assistimos à transmissão pela RTP1 da série de 5/6 episódios narrada por Carlos do Carmo, Trovas Antigas Saudades Loucas, onde se desvendam segredos, histórias, episódios da cidade de Lisboa e do Fado
Ao longo do seu percurso o fado tem sido acompanhado por uma expressão plástica. Não é uma expressão apurada, nem repleta de um elevado sentido técnico mas cumpre alguns elementos que em diversas obras estão presentes: um forte sentido folclórico, com os ambientes que lhes estão associados: a comida, o fumo, a bebida, o sentido marginal do universo do fado; a herança proveniente dos ambientes tauromáquicos com a “gana” das lides, as botas, o vermelho quente; e por fim o imaginário do cancioneiro tradicional português. A tudo isto somamos as fainas e a vertente teatral inerente a uma música sofrida onde se “encarnam” personagens, onde se replicam momentos do destino, da sorte, da sina.
As cores são fortes, os ambientes intimistas; a simbiose do fado, do fadista; da guitarra e da expressão da vida. Todos estes elementos são próprios e do fado subsidiários: «os e as fadistas propriamente ditos, e os instrumentos musicais que os acompanham (…) os ambientes social e físico a que essencialmente pertencem, ou seja, os bairros populares de Lisboa.»


Playlist:
Magina Pedro – Guitarras do Meu País
Magina Pedro – Contos Velhinhos
Edgar Lima – Fado do 31
Edgar Lima – Balada Para Ti
Patricia Fernandes – Deste-me um Beijo e Vivi
Patricia Fernandes – Amor Ausente
Sérgio Marques – Não És Tu
Sérgio Marques – Ponto Final
António Cerqueira – Amor Amargo
Andreia Ribeiro – Rosa da Madragoa
Júlia Silva – Maria lisboa
António Cerqueira – Para Meu Mal
Júlia Silva – Negro Xaile

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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

Mi-Fá-Dó-Sol

Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

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