Mi-Fá-Dó-Sol | 22 Fev 2024
Carlos Reis e Dino Marques 22/02/2024
Emissão: 22 de Fevereiro 2024
Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!
Destaque: Fado – Matriz para uma (nova) Política Cultural Externa.
Uma Estratégia Cultural ao serviço de Portugal «Quem vê o Fado como coisa do passado, Não entende que este Fado É o agora do futuro». Dotado de um sentido de perfeição e de uma paz temível, tranquiliza qualquer pessoa e suaviza qualquer desgosto.
Numa abordagem à questão da política cultural externa portuguesa, centrando-se no período entre o Estado Novo até aos nossos dias, e a necessidade expressa de edificar uma estratégia cultural forte e visível. Para tal, apontamos o fado como possível matriz desta (re)nova(da) estratégia.
O fado que é presença nas artes, nas manifestações e produções culturais, sobretudo, ao longo do último século. O fado que, enquanto produto cultural genuíno e internacionalizado, transporta e difunde consigo a língua portuguesa, o particular jeito de ser português e parte da cultura que nos identifica. E que é símbolo e representa a presença de Portugal no Mundo. É certo que a empatia ou a identificação com o produto depende do público recetor – dos gostos, dos intelectos, do sentir, da alma – mas é inegável que o fado leva o ouvinte a querer compreender, a querer conhecer Portugal, o ser português.
Apesar de não existirem dados concretos nem um estudo aprofundado, é legível, pelos inúmeros testemunhos e confissões captadas, que muitos cidadãos do mundo querem aprender o português porque já ouviram cantar o fado. No contexto de permanente crise, financeiramente agravada nestes últimos anos, o Fado também faz parte de uma Estratégia Cultural ao serviço de Portugal equaciona a cultura enquanto via possível para uma solução estrategicamente ganhadora ou, pelo menos, elemento-chave, desta alternativa. Uma chave criativa para a fuga ao panorama de constrangimento e restrição económica, assim como, de empreendedorismo fatalista.
Equacionamos o fado como matriz potenciadora dessa mesma possível solução cultural. Porque investir na cultura não é desperdiçar fundos, mas repensar uma estrutura social, institucional, educacional e de investimento consideramos que hoje, Portugal precisa de deixar a neblina. É agora que Portugal precisa de arriscar e cumprir-se enquanto país!
O Fado faz parte de uma Estratégia Cultural ao serviço de Portugal, objeto de estudo e operacionalização de conceitos-chave pensar que outrora estivemos longe do território onde agora estamos confinados, que conquistámos terras, povos e culturas…pensar que estas conquistas nos elevaram enquanto país, pátria, império… Hoje Portugal ainda chora os que partiram! Hoje Portugal ainda relembra o sonho do V Império nunca alcançado e que tarda em edificar, pela demorada chegada de D. Sebastião!
Esquecemo-nos que, para lá do que descobrimos, daquilo que territorial e materialmente já não nos pertence, existe uma cultura, uma alma, uma expressão portuguesa repartida, difundida em todos e cada um dos pontos do vasto roteiro quinhentista. Subsiste uma cultura portuguesa! Algo que nos pertence, nos diferencia e nos torna mais nós. Mas o que é a “cultura”? É a «ação de cultivar a terra; o produto do cultivo da terra; o conjunto das técnicas necessárias para obter dos solo produtos vegetais para consumo.»
Mas também é o «desenvolvimento de certas faculdades através da aquisição de conhecimentos; educação; o conjunto dos conhecimentos adquiridos que contribuem para a formação do indivíduo enquanto ser social.»^^
Mais: «É o saber; o conjunto de costumes, de instituições e de obras que constituem a herança de uma comunidade, de um grupo de comunidades; sistema complexo de códigos e padrões partilhados por uma sociedade ou um grupo social e que se manifesta nas normas, crenças, valores, criações e instituições que fazem parte da vida individual e coletiva dessa sociedade ou grupo; (…) desenvolvimento dos conhecimentos e das capacidades em domínios considerados necessários para todos.»
«Em termos operativos, cultura é genericamente considerada como o desenvolvimento espiritual, intelectual e estético de uma sociedade ou povo.» E porque «(a) escolha do tema, portanto, deve obedecer a critério seguro, honesto e verdadeiro (…) sigam-se, pois, as tendências próprias do espírito, as inclinações intelectuais, os estudos prediletos» Como tal, o tema que aqui vamos desenvolver tem como objetivo fundamental apresentar o fado como fator matriz de cultura de um povo; buscar efetivamente a sua operacionalidade e validade como instrumento aglutinador que constitui um eixo central de uma paixão que nos une enquanto Portugueses.
Será possível apresentar o Fado como matriz de uma estratégia cultural portuguesa, para a consolidação de uma (nova) política cultural externa? – o fado apresentar-se-á ao longo da dissertação como elemento base de uma dinâmica cultural externa e difusor do nosso país, da sua imagem e cultura no exterior. Uma força motriz da nossa projeção e atuação enquanto Estado soberano e detentor de uma cultura.
O “Fado” é único na sua génese e identidade, por ser um elemento que empiricamente se apresenta como aglutinador da cultura portuguesa, por ser transversal, também, aos vários domínios e sectores de atividades da sociedade portuguesa: das artes, à economia, da história, ao turismo (entre outras).
O Fado enquanto expressão popular urbana lisboeta, mas que se expande como melodia portuguesa, Fado de Portugal. Neste sentido, o fado será um dos melhores meios que dispomos para a implementação da política cultural externa que a política idealiza.
Centrámos a nossa atenção no fado para que, mediante o seu estudo e posterior compreensão, possamos não só entender a cultura como um todo, mas sobretudo o fado integrado e influente no seio desta de modo decisivo e, até, condicionador, estimulando, proporcionando, partilhando e até provocando a sua elaboração e difusão em Portugal e no Mundo.
Talvez haja um “fado” em cada cultura, mas igual a este, só o nosso!
Será possível apresentar o Fado como matriz de uma estratégia cultural portuguesa, para a consolidação de uma (nova) política cultural externa? Enumeram-se questões coadjuvantes, reflexões que contribuem para apurar a pergunta chave: Será o fado passível de ser utilizado como instrumento, como meio, como elemento de divulgação de outras áreas de interesse estratégico nacional como o turismo, a economia, o comércio?
Poderá ser um foco construtor e disseminador de soft power? Existe, ou não, um sentido empreendedor associado a este Fado?
Playlist:
Jaime Santos – Ronda Fadista
Manuel Delindro – Sombras da madrugada
António Pelarigo – Fado São Nicolau
Camané – Alguém viu por aí a Margarida
Fernando Farinha – Velha praça da figueira
Carlos Zel – Geração anos sessenta
Maria Albertina – Lisboa à Noite (Milú)
Maria Teresa de Noronha – Fado hilário
Beatriz da Conceição – Se Fui Rio, Já me Não Lembro
Maria Da Fé – Sete gritos
Manuel De Almeida – Longe de ti
Tony de Matos – O rosa
Maria do Céu Correia – O Fado de Cada Um
Tony Reis – Mariana
Jorge César – Passa o dia à janela
Teresa Tarouca – As tuas mãos guitarristas
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Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados