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Válega homenageou os Mártires do Corte das Videiras 83 anos após conflito que opôs o povo ao Estado Novo

Escrito por em 19/05/2022

No passado domingo, 15 de maio, Válega assinalou um momento alto da história do seu povo, não deixando passar em branco o 83º. aniversário do episódio em que os valeguenses resistiram à Lei do Corte das Videiras, desafiando as autoridades.

Foi em 1939 que os locais Jaime da Costa, pedreiro de 18 anos, e Manuel Maria Valente de Pinho, agricultor de 38 anos de idade, acabaram por sucumbir aos tiros disparados pelos militares da Guarda Nacional Republicana, quando o povo se revoltou para impedir o abate das videiras de uva americana da aldeia. A Lei que foi desafiada, havia sido decretada em 1935, pelo Governo de António Salazar, proibindo a plantação dessa espécie fora do âmbito de porta-enxertos das castas portuguesas.

Os registos e testemunhos da época contam que, num ato de desespero, para proteger as suas plantações, o povo de Válega desafiou o Estado Novo. Armados com alfaias agrícolas, cercaram os guardas no adro da igreja, impedindo-os de executar as ordens do Governo. A chegada de reforços precipitou os acontecimentos, tendo sido disparados tiros, que acabariam por atingir mortalmente os dois homens.

Na passagem de mais um aniversário das mortes que abalaram Válega, teve lugar mais uma romagem, na qual foram depositadas flores nas suas campas.

A homenagem foi uma iniciativa dos Amigos do Antigo Concelho de Pereira Jusã, em sintonia com a União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro (UABDA) e a Junta de Freguesia de Válega, que se fez representar pelo Presidente Raúl Teixeira e pela Vogal Lúcia Silva.

A associação que representa os agricultores do distrito, presidida por Carlos Alves, que esteve presente e discursou nesse momento simbólico, manifestou-se nas redes sociais sobre o sucedido em Válega. Recordando as inúmeras dificuldades que o povo que vivia da atividade agrícola passou nessa época, aproveitou para olhar para os dias de hoje, concluindo que a realidade continua a ser árdua, apesar de todas as mudanças operadas na sociedade portuguesa. Assim, concluiu que pensar e recordar os Mártires obriga o povo a projetar o contributo que pode dar para alterar o eterno cenário de crise do sector.

O agravamento das condições dos setores agrícola e pecuário levaram ao abandono da profissão. Só no distrito aveirense, foram milhares as pequenas e médias explorações que cessaram atividade, sobretudo as que se focavam na produção de leite.

A UABDA apontou mesmo o dedo aos governantes e aos grandes grupos económicos, acusando-os de estarem a impor mais sacrifícios aos pequenos e médios produtores, ao aumentar os custos de produção enquanto continuam a limitar os preços dos bens produzidos.

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Fotos: António Dias
Texto: Irina Silva

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