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Ovar em Jazz’23: Marc Ribot & The Jazz Bins proporcionaram um jazz eclético e original

Escrito por em 27/04/2023

“The Jazz Bins” – aqui está o nome da banda deleitosa e eletrizante que deu vida ao Ovar em Jazz na noite de 21 de abril.

O trio americano formado por Marc Ribot, Greg Lewis e Joe Dyson revela-se (alinhado com a grande qualidade dos concertos do Ovar em Jazz) como uma faceta do jazz que, enquanto soa mais, em termos da progressão de acordes em si, ao jazz original, preenche-se com um som muito cheio, ribombante, inovador, e claramente eclético e original.

Não só os músicos eram absolutamente estupendos (e, sinceramente, são bons demais para eu não falar de cada um deles em separado), como a combinação de elementos e detalhes curiosíssimos elevaram a música a um novo patamar, trazendo-lhe particularidade e estilo próprio.


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Tendo isto dito, vou então começar por falar dos músicos, e por uma simples razão – ou melhor, uma simples frase – quando tive o enorme prazer de poder conversar com Marc Ribot e Greg Lewis (entrevista no fim do artigo), Ribot disse-me uma frase que me ficou no ouvido: “quando ouvires o concerto, vais perceber o que eu quero dizer com a capacidade do Greg Lewis de contar uma história”.

Meu Deus, se ele tinha razão – no seu muito especial Hammond B3 (neste caso um Leslie), Lewis rasga e transforma um tema nalgo tão pungente, logo no início do concerto, que ninguém fica indiferente.

E não é um caso a solo – o artista continua a surpreender-nos durante todo o concerto com esta sua (fantástica) carta na manga, demonstrando-nos um poder e ímpeto avassaladores, sem esquecer, claro, a magnífica fusão do som do seu órgão com a guitarra de Marc Ribot.

E, claro, não podia deixar de referir ao seu fantástico solo, que foi de uma sonoridade transcendente. Uma peça tão profunda, de tão enorme dimensão, dramatismo, uma voluminosidade arrebatadora… que melhor maneira de demonstrar o génio indubitável deste artista, para além de demonstrar tudo o que há de especial no seu amado Hammond B3.

Afinal… não admira que o carregue para todo o lado. E vale bem a pena!

A minha conclusão é que Marc Ribot acertou em dois pontos muito interessantes – o primeiro sendo a magnífica fusão que origina entre órgão e guitarra, e o segundo sendo que Greg Lewis deve ser um dos melhores organistas do Mundo.

Depois, Joe Dyson, o baterista – para ser sincera, acho que nunca tinha ouvido um baterista tão bom ao vivo. Como costume no jazz, o baterista é quem segura o tempo, mas o que eu não esperava era a maneira como Joe Dyson manipulava o tempo.

A sua criatividade, fluidez, facilidade em trabalhar e transformar o tempo, aliadas às suas dinâmicas remarcavelmente adequadas e expressivas, davam um cariz essencial e muito mais mexido e cativante aos temas, realmente renovando os temas da banda para algo deveras genuíno.

E, finalmente, Marc Ribot, o guitarrista – em primeiro lugar, é preciso destacar o timbre e caráter incrivelmente cativantes deste artista.

Aliás, difícil será nomear um solo dele a meio de um tema que não fosse imediatamente recebido com uma ovação, mas aquilo que me cativou ainda mais nas suas partes foi a fusão de estilos presentes na música dos Jazz Bins. Uma das perguntas que tive a excelente oportunidade de fazer a Marc Ribot foi em relação a todos estes estilos que o influenciam, desde o punk e o soul, e até mesmo ao funk, e foi também nele que ouvi mais estes elementos, até vindos do punk e do no wave, estilos com que este artista cresceu – e que melhor maneira de aliar o jazz ao punk. Foi maravilhosa a maneira como estes dois estilos que poderiam ser algo contrastantes se interligaram de maneira tão singular e relevante.

Mas, para além de todos estes elementos imensamente estimulantes, o que é que torna os Jazz Bins únicos?

Bem… para mim, é definitivamente a energia – não sei se conseguiria encontrar uma palavra melhor para descrever a música desta banda do que “eletrizante”. Quer dizer, apenas pela sua qualidade e criatividade exímias como músicos, eles pegam no jazz e elevam-no a um nível completamente diferente.

E pode começar no jazz, mas depois é tal a grandeza e densidade, a desenvoltura, o poder que perpetram a sua música, que a peça fica completa e inevitavelmente espetacular.

Mas não fica por aí – entram todos os nossos queridos elementos emprestados, as histórias por detrás, o ritmo extraordinário, um timbre e garra únicos, e aí temos música magnífica. Fresca, poderosa, pura e simplesmente fabulosa de uma ponta à outra.

E tudo isto faz-me pensar que milagres existem mesmo, porque como é que um trio tão louvável se tinha conhecido se não fosse um milagre?

E apenas tenho mais a dizer que estou verdadeiramente orgulhosa de ter tido a oportunidade de os ouvir ao vivo pela primeira vez. Espero mesmo que não seja a última.

Deixo a entrevista realizada com Marc Ribot e Greg Lewis, no âmbito do concerto no CAO:

Confira alguns instantâneos da atuação dos The Jazz Bins, pela lente de António Dias:

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Fotos: António Dias
Áudios: Jaime Valente
Texto: Mariana Rosas

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