Faixa Atual

Título

Artista

Atual

Horóscopos

11:10 11:15

Atual

Horóscopos

11:10 11:15


Mi-Fá-Dó-Sol | 07 Set 2023

Carlos Reis e Dino Marques 07/09/2023

 

 

 

Emissão: 07 de Setembro 2023

Descrição: Programa inteiramente dedicado ao Fado. Realizado por intérpretes do género musical, Mi-Fá-Dó-Sol foca-se na divulgação de artistas e eventos, sem deixar de lado a história e as curiosidades de tão importante património português!

 

 

Destaque: História do Fado

 

Entre o fado em tom menor chorado e triste e o ritmo veloz, irónico e brejeiro do fado corrido, com quadras e quintilhas ou sextilhas e decassílabos, a poesia popular tinha o seu lugar e acontecia o fado.
Permitam-me um parêntesis, para dizer que o “Menor” e o “Corrido” fazem parte de uma “tríade” famosa, juntamente com o “Mouraria”
São fados predominantemente em dois tons, dos mais básicos do repertório fadista de todos os tempos.
O “Mouraria” é o preferido para improvisar despiques entre fadistas, para cantar “à desgarrada”.
Dada a facilidade da estrutura musical destes três fados (permitindo que sejam acompanhados por qualquer músico, ou mesmo apenas à viola) e servidos por letras “em quadra” (a forma poética mais popular), tornaram-se “referência obrigatória” para todos os intervenientes no “ato fadista – cantores/declamadores, músicos, público. Ainda hoje, apesar do seu carácter extremamente elementar, que nos remete diretamente aos primórdios do fado, uma noitada fadista sem o “Menor”, o “Corrido” ou o “Mouraria” é absolutamente improvável.
Fechado o parêntesis, diga-se que nesse passado longínquo associavam-se ao fado o tabaco, o vinho, a voz áspera e rouca. O fado, mais que qualquer coisa que se cantava, era sobretudo algo que se contava e improvisava.
Os vários acontecimentos políticos de projeção nacional que ocorreram nas últimas décadas do século XIX, passando pela queda da monarquia e implantação da República em 1910, resultaram em importantes transformações a nível nacional e também na cidade de Lisboa.
Surge, por exemplo, uma classe operária emergente que começa a demarcar-se dos grupos mais pobres da população, querendo mostrar a sua identidade e diferença.
Os espaços e as situações de encontro multiplicam-se e o fado aparece como um veículo de sociabilidade.
O Fado é absorvido por esta nova classe emergente, não apenas como pretexto de encontro entre pessoas, mas também como uma forma de contar a sua vida, assumindo uma forma de crítica social e moral (por exemplo valorizando o contraste entre ricos e pobres, entre justos e injustos).
Quando a aristocracia boémia e as classes médias urbanas “redescobrem” este género, nas décadas de 1860 e 70, o Fado passa a ter lugar no teatro musical ligeiro, começa a ser publicado em edições de folhetos para uso doméstico e acabará por se tornar num favorito da indústria discográfica nascente.
O gosto pelo fado sai, assim de um grupo muito específico e marginal para se generalizar, começando a aparecer em pequenas publicações, festas de beneficência etc.
Desde o fim do século XIX até ao início do século XX assiste-se à proliferação de lugares e situações onde o fado se produz: entre eles, predominam tavernas, sociedades culturais e recreativas. Mas as suas grandes transformações aparecerão com o regime político instaurado pelo golpe militar de 1926, que termina com a Primeira República e marca o início da ditadura.
O regime impõe a censura prévia, estabelecendo leis no que diz respeito às condições de exibição pública e os lugares onde o fado poderia acontecer.
As letras cantadas pelos fadistas eram censuradas pela autoridade estabelecida.
Os fadistas eram obrigados a ter uma carteira profissional para cantarem em público. Para obtê-la, era necessário provar que não tinham antecedentes criminais.
O fado perde, assim, a sua espontaneidade, as suas características, o seu estilo de improvisação, passando de um gesto quotidiano para um espetáculo cheio de limitações e regras.
A rádio, mais que contribuir para a proliferação dessa música, induziu as formas mais subtis de censura, fazendo uma triagem das vozes e formas de cantar consideradas socialmente aceites pelo regime. A censura reina de forma absoluta.
Paralelamente, a repressão aumenta, assim como a ação da polícia em relação aos locais onde se cantava o fado, limitando-o às casas de fado ou a restaurantes especializados e demasiado homogeneizados.
O fado separa-se, assim, dos grupos marginalizados onde nasceu, para se constituir como uma forma de manifestação estável e institucionalizada muito bem aceite pela ditadura.
Uma das consequências da passagem do “fado-quotidiano” para o “fado-espetáculo” foi a forma como os fadistas começaram a vestir-se.
No passado, a imagem não tinha nenhuma importância. A partir do momento que se transforma em espetáculo, os fadistas começam a vestir-se com pompa e o xaile colorido passa a ser um adereço fundamental de qualquer mulher que cantasse o fado.
É nesse contexto, em plena ditadura, que aparece Amália Rodrigues (1920-1999). Se a ditadura impôs as transformações profundas nos locais e definiu quem podia cantar o fado, esvaziando-o de espontaneidade e improvisação, Amália Rodrigues foi sem dúvida o grande marco e quem mais revolucionou esta expressão musical portuguesa. Há sem dúvida um fado antes e outro após Amália.
Amália Rodrigues deu ao fado o preto como cor, os poemas e a voz. Ousou também cantar novas melodias que saíam completamente dos cânones tradicionais do fado. Saímos dos “fados-padrão” para a noção de “fado com música própria”. Estas melodias foram escritas, na sua maioria, pelo francês nascido em Portugal Alain Oulman (1928-1990) Amália é referência fundamental, porque ousou mudar e mudou quase tudo. Criticada pelos puristas sobre a sua forma de cantar – “à espanhola” ou “óperas” em vez de fados –, de tudo se ouviu, mas nada a fez parar e Amália venceu.
A partir dos anos 1950, Amália Rodrigues começa a cantar os poemas dos grandes poetas da literatura portuguesa. De Luís de Camões aos poetas eruditos do seu tempo: David Mourão Ferreira, Pedro Homem de Mello, Alexandre O’Neill, entre outros. Também cantou Vinícius de Moraes. O poema assume um estatuto que nunca teve antes na história do fado.

 

Playlist:
Fernando Maurício – Alma do Ribatejo
Alfredo Marceneiro – Quadras Soltas
Jorge César – Duas lágrimas de orvalho
Celeste Rodrigues – É Noite Na Mouraria
Beatriz da Conceição – Alguém
Joaquim Silveirinha – Bom Jogador
António Rocha – Boneca de Porcelana
Tristão Da Silva – Menino, Menino
José Fernandes – Balada para ti
Amália Rodrigues – Caldeirada
António Pelarigo – Jardim Abandonado
Fernando Farinha – Velha praça da figueira
Manuel De Almeida – Fado Antigo
Filomeno Silva – Qual é a cidade

 

[give_form id=”81006″]

 


 

Publicação: Irina Silva
Foto(s): Direitos reservados

Mi-Fá-Dó-Sol

Vibram as cordas... Bem Vindos ao Fado!

Mais informações