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Ovar convida a sentar à mesa com Júlio Dinis, num Roteiro Gastronómico inspirado nas suas obras

Escrito por em 09/11/2021

Terá início na quinta-feira, 11 de novembro, o Roteiro Gastronómico, uma iniciativa do (Re)vive & Fica, Projeto de Programação Cultural em Rede que resulta de uma parceria da SEMA – Associação Empresarial, com os Municípios de Albergaria-a-Velha, Estarreja, Murtosa, Sever do Vouga e Ovar.

O Roteiro, especifico de cada concelho, é alicerçado em obras literárias de autores locais, sendo esse património imaterial o fio condutor do evento. Em Ovar, as memórias da estadia do escritor Júlio Dinis na casa junto ao jardim dos Campos, que remontam ao ano de 1863, serão vivenciadas e devidamente degustadas.

O Roteiro Gastronómico “À Mesa com Júlio Dinis”

Entre os dias 11 e 14 de novembro, os estabelecimentos aderentes irão disponibilizar ementas inspiradas nos livros de Júlio Dinis, com especial foco na obra “As Pupilas do Sr. Reitor”. Os pratos, criados pelo reconhecido Chef de Cozinha Luís Lavrador, foram alvo de toda a atenção num workshop que o mesmo promoveu com os responsáveis pela sua confeção dos vários estabelecimentos que aderiram à iniciativa.

– Restaurantes Aderentes:

– Ementas e respetivas referências literárias

  • Sopas:

E senão vejam-no José das Dornas também quis saber se o caldo de abóbora era melhor para a saúde do que o de nabos” (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XIV)
E senão vejam-no [João Semana] desta vez esgotar a tigela avolumada de substancial caldo de abóbora…” (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XVIII)

Logo ao princípio, foi um velho, em mangas de camisa, e de cabeça já despovoada de cãs, que, segurando uma enorme tigela de caldo de tronchuda e vagens, coroado por uma pirâmide de broa esmigalhada, apareceu à porta da cozinha e disse, com a cabeça meia ocupada por mantimentos, e sorrindo:
– É servido do meu jantar, Sr. João Semana?…” (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XVII)

  • Entradas:

…queria-se com o prato clássico da orelheira de porco e até com aquele outro prato, tão castiço como qualquer período de Fr. Luís de Sousa – prato que valeu aos portuenses um epíteto gloriosamente burlesco; queria-se com todas estas iguarias, quase desterradas das mesas modernas, de preferência aos manjares exóticos, cuja nomenclatura tem a propriedade de fazer ignorar ao conviva o que lhe dão a comer.” (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XVIII)

sido rogado para uns trabalhos aí para longe. Por sinal, que me pagaram como a cara deles. Sempre lhe digo, Sr. João, que isto de jornais está uma pouca vergonha. Deu o que tinha a dar. Eu lembro-me dantes… Mas vamos ao caso, eu chegava a casa; e tinha dito lá á minha patroa…que, coitada, também não tem andado lá essas coisas, não – mas tinha-lhe eu dito que me fritasse uns ovos com presunto – e deixe-me dizer-lhe, que os ovos este ano também são uma peste. Parece que deu o arejo nas galinhas. Diabo as levem. Daqui a pouco, da maneira que isto vai, ficamos sem ter que comer e a fazer cruzes na boca. Mas estava lá a minha patroa a fritar-me os ovos… É verdade, ó Sr. João, que diabo de azeite me deu vossemecê o outro dia, que nem à mão de Deus padre se pode levar?” (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XXXIX)

  • Pratos Principais:

Se um conviva tinha curiosidade de perguntar ao seu Anfitrião o que continha este ou aquele prato, uma só resposta o satisfazia, era um frango guisado, um peru recheado… Hoje, a primeira resposta é um nome francês bárbaro, absurdo, que, contra as promessas da gramática, não dá a conhecer a coisa, nem as suas propriedades; e por isso uma segunda pergunta é inevitável; a não querer cada qual a resignar-se a comer o que não sabe o que é – tormento insuportável. (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XVIII)

E senão vejam-no… aviar a formidável posta de carne cozida, com presunto, acompanhando-a com o indispensável arroz, salada de alface e azeitonas; atacar com igual denodo, uma porção de roast-beef, não revendo sangue sob a faca, à moda inglesa, mas portuguesmente assado, e como estou convencido assavam os seus carneiros aqueles heróis da Ilíada; tudo isto acompanhado de excelente vinho palhete, o qual ele ingeria aos copos de meio quartilho…” (As Pupilas do senhor Reitor, capítulo XVIII)

  • Sobremesas:

…em seguida uma carregação de pêras de amorim, sem conta, peso, nem medida… À sobremesa o mesmo sistema. A pêra de amorim atraiu um elogio facultativo e mereceu as honras de um caso”. (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XVIII)

Excelente frita! Disse João Semana, ao comer a duodécima. Tinha razão aquele frade, que do púlpito dizia “Ó meus amados ouvintes, que miserável é a condição humana! Vede como a desgraça do mundo veio de uma má tentação. Eva perdeu-nos por uma maçã! Se ao menos fosse por uma pêra, meus fiéis ouvintes, ainda se poderia desculpar, mas por uma maçã!” (As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo XVIII)

Outras Atividades

  • Visita ao Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense, com estrada gratuita nos dias 11, 12 e 13 de novembro.
  • Exposição de Ilustração “O Canto da Sereia”, de Pedro Podre, no Mercado Municipal de Ovar, até 22 de novembro.
    O artista, desfiado pela autarquia, interpretou, com as suas ilustrações, “O Canto da Sereia” de Júlio Dinis, obra literária escrita durante a passagem do romancista por Ovar. A obra, centrada na Praia do Furadouro, dá vida a duas personagens principais, o Tio Cabaça – um velho pescador que conta a história fabulosa de uma sereia que fui puxada até essa praia por redes de pesca, com o intuito de advertir os pescadores mais novos para os perigos que escondem estes seres fantásticos; e o jovem Pedro do Ramires, que tendo já ouvido o canto de uma sereia, sucumbe ao seu encanto.
    Para a concretização das ilustrações, Pedro Podre utilizou a técnica da tinta da China sobre papel.
  • Almoço Literário na “Casa dos Campos”, a 14 de novembro
    Joaquim Guilherme Gomes Coelho, conhecido pelo pseudónimo Júlio Dinis, em 1863, veio passar uma temporada a Ovar, após tomar conhecimento que contraiu tuberculose. Ficou a casa da sua tia paterna, D. Rosa Zagalo Gomes Coelho, localizada no Jardim dos Campos. Além da brisa do mar, Ovar também proporcionou momentos de inspiração que invadiram as suas obras literárias, nomeadamente “As Pupilas do Senhor Reitor“, “A Morgadinha dos Canaviais” e “O Canto da Sereia“.
    No próximo dia 14, a casa já habitada por Júlio Dinis será o ponto de partida para um regresso às vivências e memórias registadas pelo escritor, terminando esta viagem na mesa, com a degustação de receitas da época, elaboradas a partir de referências gastronómicas das suas obras literárias.
    Esta atividade terá início às 10h00, encontra-se limitada à lotação do espaço e a participação tem um custo de 25€uros.

Para mais informações pode contactar o Serviço de Turismo, através do email turismo@cm-ovar.pt ou dos contactos telefónicos 256 509 153 e 930 409 207.
Também pode contactar o Museu Júlio Dinis, através do email museujuliodinis@cm-ovar.pt  ou do número 256 581 378.


Fotos: Direitos Reservados
Texto: Irina Silva

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